Cidades

Só exames mais profundos devem confirmar morte de bebê por zika

Funcionária de hospital que atendeu a mãe grávida infectada afirmou que o feto tinha microcefalia. Secretaria averigua se há ligação entre o vírus e a malformação

Flávia Maia, Otávio Augusto
postado em 02/03/2016 06:27
Profissionais do Exército lipam focos de Aedes no Parque da Cidade

O avanço das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti não para de crescer no Distrito Federal. Desta vez, um bebê pode ter sido vítima do zika. A criança não teria resistido ao micro-organismo e morreu dentro da barriga da mãe. O parto ocorreu na manhã de ontem, no hospital Santa Lúcia, na Asa Sul. A morte é investigada pela Secretaria de Saúde. Se for confirmada, será o primeiro óbito causado pelo vírus na capital do país. Amostras do sangue do bebê e da mãe foram coletadas para os exames comprobatórios no Laboratório Central (Lacen-DF). A unidade privada informou que cumpriu o protocolo epidemiológico e enviou notificação para a secretaria dentro do prazo de 24 horas.

[SAIBAMAIS]O contágio não ocorreu no Distrito Federal, segundo a secretaria. A mãe adquiriu o vírus em outra unidade da Federação e pode ter infectado o bebê ; há estudos que apontam que o vírus entra pela placenta e se instala no sistema nervoso do feto. Uma funcionária do Santa Lúcia, que preferiu não se identificar, informou que a criança tinha microcefalia. ;Foi uma surpresa. Assim que a equipe médica soube, transmitiu (a informação) para a direção. Não havia ressalva sobre a infecção por zika na documentação do pré-natal;, contou uma enfermeira.

O Hospital Santa Lúcia não divulgou detalhes do caso e informações sobre a paciente e o bebê. Via nota, a unidade comunicou que não passa dados sobre a vítima porque ;só pode esclarecer qualquer informação do estado de saúde de seus pacientes mediante autorização do próprio ou de seus familiares;.



Associação
A averiguação da causa da morte está a cargo da Subsecretaria de Vigilância à Saúde. Ao todo, a cidade contabiliza 24 casos de microcefalia com associação ao zika. Desses, cinco são apurados. Outros 19 foram descartados. Até o momento, não há confirmações de crianças na cidade com a malformação causada pela infecção transmitida pelo Aedes.

O neurocirurgião do Hospital de Base e do Home Gilmar Saad explica que o óbito pode ter sido causado pela malformação. Ele afirma que o zika vírus passaria a barreira placentária e, uma vez implantado no sistema nervoso, o micro-organismo impede o crescimento do tecido cerebral ; causando desde o ligeiro retardo mental até lesões severas. ;Podemos ter ausência de desenvolvimento de áreas cerebrais responsáveis pela manutenção de funções vitais, como o sistema cardíaco e respiratório. Por isso, o bebê morre.;

O obstetra e especialista em medicina fetal Antônio Morion comenta que, por causa do aumento dos casos de microcefalia no país e por mortes causadas pela malformação na Bahia e em Pernambuco, a orientação das secretarias de Saúde de todo o país é a de realizar um exame minucioso nos fetos com a deficiência. Porém, ele não descarta a possibilidade de a criança ter adquirido outra infecção que ocasionou a morte. ;A Secretaria de Saúde do DF tem que fazer uma autópsia e a análise da placenta para ver se a infecção se deu por zika ou não. Como a mãe tinha o vírus, é provável.;

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