Cidades

União cobra mais de R$ 700 milhões desviados por Luiz Estevão

Senador cassado é levado para o Centro de Detenção Provisória para cumprir pena por desvio de verba na construção do TRT de São Paulo. Mas ele ainda precisa quitar o débito que tem

Helena Mader
postado em 10/03/2016 06:44
Carro com Luiz Estevão (no banco traseiro) segue em direção à Papuda: empresário ficará na mesma cela de envolvidos com o esquema do mensalão, como Henrique Pizzolato e Ramon HollerbachO senador cassado Luiz Estevão já está no Complexo Penitenciário da Papuda, onde vai cumprir a pena de 25 anos de cadeia. Na manhã de ontem, ele foi transferido do Departamento de Polícia Especializada da Polícia Civil para o Centro de Detenção Provisória (CDP). O empresário vai dividir a cela com Henrique Pizzolato e Ramon Hollerbach, condenados por envolvimento no mensalão. Mas a punição criminal não encerra as contas de Estevão com a Justiça. Ele ainda é alvo de ações na área cível, em que o Ministério Público cobra o ressarcimento do dinheiro desviado das obras do Fórum Trabalhista de São Paulo. Há quatro anos, o senador cassado fez um acordo com a União para devolver parte desses recursos. Nesse período, ele já repassou R$ 235 milhões ao governo federal. Mas, desde dezembro do ano passado, as empresas de Luiz Estevão não depositam a prestação devida. Isso porque o empresário questiona na Justiça os termos do acordo firmado com a Advocacia-Geral da União.

Em 2012, a AGU calculou em R$ 1 bilhão a dívida do ex-senador com o erário. Em valores atuais, esse débito é ainda maior. No acordo firmado com o governo federal, Estevão reconheceu apenas um débito de R$ 468 milhões. À época, ele se comprometeu a devolver esse montante com o depósito de R$ 80 milhões à vista. O restante seria parcelado em oito anos, ou seja, o empresário deve depositar mensalmente cerca de R$ 4 milhões para a União. Pelo acerto com a AGU, o governo mantém a penhora de 1,2 mil imóveis do empresário, no valor total de 150% da dívida.

Os R$ 532 milhões que não foram incluídos no acerto são cobrados pelo governo na Justiça. O acordo teve o aval do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo e do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU). Mas, no ano passado, Estevão recorreu à Justiça questionando os termos da negociação. O empresário solicitou a adesão ao Programa de Recuperação Fiscal (Refis), que prevê a expressiva redução de juros e multas devidos e a possibilidade de pagamento em até 180 meses.



Em primeira instância, a Justiça deferiu liminar permitindo o enquadramento da dívida de Luiz Estevão no Refis. O Departamento de Patrimônio e Probidade da Procuradoria-Geral da União, órgão vinculado à AGU que acompanha o cumprimento do acordo com o empresário, recorreu. O caso está no Tribunal Regional Federal da 1; Região, em Brasília. A AGU entende que a dívida do ex-senador não é tributária e, portanto, não se enquadra no Refis.

;Em razão do deferimento da referida liminar, o acordo com o Grupo OK está suspenso desde novembro de 2015;, informou, por meio de nota, a Advocacia-Geral da União. ;A AGU não desistiu da ação de cobrança contra o Grupo OK e segue discutindo parte do débito apontado pelo TCU como fruto de irregularidade que a empresa ainda contesta;, acrescenta a Advocacia. Para a AGU, Luiz Estevão ainda deve R$ 765 milhões, mas esse valor tem que ser corrigido desde 2012. ;Com a prisão do ex-senador, não há interferência na cobrança ou no acordo;, explicou a Advocacia-Geral da União.

Histórico

Na época da assinatura do acordo, a então procuradora-geral da União, Hélia Maria Bettero, classificou a negociação como ;a maior recuperação de dinheiro desviado dos cofres públicos da história do Brasil, e talvez, do mundo;. O advogado de Luiz Estevão, Marcelo Bessa, por sua vez, alegou na ocasião que a assinatura do acordo não representava um reconhecimento de responsabilidade pelos desvios, mas uma forma de acabar com o bloqueio de 100% sobre o patrimônio do empresário.

Paralelamente à negociação com a AGU, o Ministério Público Federal entrou com ações de improbidade contra Luiz Estevão e outros envolvidos no esquema do Fórum Trabalhista de São Paulo, como o ex-juiz Nicolau dos Santos Neto. Eles foram condenados pela Justiça Federal de São Paulo e, em 2013, o entendimento foi mantido pelo Tribunal Regional Federal. Com a obra superfaturada, iniciada em 1992, os acusados desviaram R$ 170 milhões. Segundo o MPF, em valores atualizados, esse montante supera R$ 2 bilhões. A Justiça determinou que os réus condenados por improbidade administrativa devem devolver os recursos desviados, além de pagar danos morais e multa. Mas as ações de improbidade ainda não transitaram em julgado.

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