Apagam-se as luzes da sala de cinema. O silêncio se faz absoluto. Na tela, começa a ser rodada uma série de filmes cujo tema é um só: a autonomia da pessoa com deficiência. O Assim Vivemos, festival internacional de filmes sobre deficiência, chega a sétima edição e, na tarde desta sexta-feira, recebeu um público muito especial. Eram 20 pacientes do Hospital Sarah Kubitschek e 40 alunos do Centro de Ensino Fundamental Nova Betânia, de São Sebastião. Naquele momento, pessoas com restrições intelectuais, visuais e locomotoras puderam viver uma experiência única.
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Atentos, eles pouco se importavam com o ambiente externo, muito menos com o tipo de deficiência que um dia os impôs desafios e barreiras aparentemente intransponíveis. Reunidos em um só ambiente, jovens e adultos foram convidados a refletir sobre as perspectivas de futuro e sobre a independência dos deficientes. E foi exatamente o que aconteceu com a enfermeira e paciente do Sarah, Alice Lima. Aos 33 anos, ela é a prova de que uma cadeira de rodas não pode ser maior do que a vontade de vencer. ;Os filmes me fizeram questionar até que ponto uma deficiência é pior do que a outra;, conta.
A jovem, que sonha ser concursada, se identificou com o anseio pela liberdade, retratado em cada um dos filmes. Com o apoio da família, ela conta que a falta do movimento nas pernas nunca a impediu de ser independente. ;Isso sempre foi tranquilo para mim, por que a minha família sempre me deu força para perseguir o que eu queria;, diz. E foi ancorada nesta força que Aline mudou-se para São Paulo, onde viveu sozinha por seis meses até voltar para a capital federal. Ciente de que ainda há muito preconceito na sociedade, ela reforça que falar sobre a deficiência é contribuir para o fim de qualquer estranhamento. ;O preconceito é só uma questão relacionada ao conceito que alguém inventou do que é ou não ser normal. A verdade é que de perto ninguém é normal;, brinca.
E foi justamente esse preconceito, por vezes escancarado, que motivou a perpetuação do Assim Vivemos, que fica no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) até o dia 14 de março. São filmes, oficinas e debates voltados para a invisibilidade social e para a necessidade de inserção da pessoa com deficiência. Neste ano, a ênfase está na independência tão sonhada, mas subestimada por familiares, amigos e pela sociedade em geral. Para a curadora do festival, Lara Pozzobon, a ideia é mostrar as possibilidades para os deficientes que chegam à idade adulta e querem viver sozinhos. ;As pessoas com deficiência são vistas, muitas vezes, como incapazes. Apesar disso, eu acredito que esta nova geração vem com novos anseios e vai fazer a diferença;, acredita.
Lara afirma que mostras como esta servem para provocar a reflexão e inspirar os mais diversos públicos. ;O que a gente vê nos depoimentos é que todos ganham. O público sai transformado e cada um vê no outro que a diferença não é um problema;, diz. Com entrada franca e aberta para todos, o evento oferece audiodescrição, catálogos em braile, legendas descritivas e interpretação em LIBRAS, além de acessibilidade física para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida. Por ser uma mostra competitiva, na qual competem 33 filmes nacionais e internacionais, há julgamento e entrega de troféus. Composto por três pessoas portadoras de deficiências distintas, o corpo de jurados que conta com o auxílio do público, que expressa as opiniões acerca doas produções.
A estudante Gisele Souza Silva, 13 anos, saiu da sessão de filmes maravilhada. Mãos Dadas, Pássaros sem Asas, Lições de Italiano e Independente, foram os quatro filmes exibidos, com os quais ela se encantou. Cada um a seu modo representou o que a jovem pensa sobre a necessidade de autonomia que têm as pessoas portadoras de deficiência. A todo tempo, ela comentava com as colegas de classe sobre as impressões e sensações geradas pelas histórias contadas ali. Acostumada a conviver com colegas autistas, ela afirma: conviver com pessoas que possuem algum tipo de deficiência é natural. ;Eles são especiais pelo que são por dentro, não pela deficiência externa. A verdade é que a deficiência não difere em nada;, argumenta.
Serviço
O quê: Assim Vivemos ; Festival Internacional de Filmes sobre a Deficiência
Quando: até 14 de março
Entrada franca, mediante a retirada de ingressos com uma hora de antecedência de cada sessão.
Classificação: Livre
Informações: 3108-7600
Com informações de Hariane Bittencourt.