A repetição milenar perpetua uma tradição. Assim ocorre com a encenação da Paixão de Cristo, um dos principais momentos da fé católica. Por séculos, enredo e desfecho da história sobre o calvário e a ressurreição de Jesus são relembrados e, ainda assim, emocionam os fiéis (veja arte). No Distrito Federal, a apresentação do maior espetáculo ; a via-sacra do Morro da Capelinha ; ocorre há 42 anos e, como em todas as edições, atrai uma multidão para o evento religioso. Para este ano, são esperados pelo menos 120 mil espectadores para o teatro a céu aberto, em Planaltina. A grandiosidade da celebração reflete a dedicação dos mais de 1,1 mil participantes e estimula os mais novos a prosseguirem na empreitada.
E, para quem ainda está aprendendo sobre a vida, a via-sacra proporciona diversas lições. ;Muitas vezes, pensamos que a criança não percebe o que está acontecendo na família. Mas ela vê tudo. A Paixão de Cristo a ensina a perceber as dificuldades e a não temê-las, mas, sim, buscar vencê-las;, destaca o pároco da Catedral Metropolitana de Brasília e coordenador do setor de comunicação da Arquidiocese de Brasília, padre João Firmino. Para intensificar a integração com a fé, desde os primeiros anos de vida, as gerações mais jovens são colocadas em contato direto com a história. Por isso, além de participarem como entusiasmados espectadores no Morro da Capelinha, desde 1994, os pequenos encenam a via-sacra das Crianças, no Sábado de Aleluia, também em Planaltina. ;A via-sacra é um momento de evangelização. Fazemos uma preparação espiritual muito grande. Ensinamos, inclusive, que o papel não pode subir à cabeça;, afirma a coordenadora do evento, Eliane Rodrigues de Araújo.
A experiência de estar no palco em uma das histórias mais conhecidas do mundo é desafiadora. ;Representar Jesus Cristo, para mim, é o topo. É nele em que me inspiro todos os dias. É gratificante demais;, conta Douglas Emanoel Munis de Jesus, 14 anos. Há três anos, ele se dedica a encenar o protagonista da via-sacra das Crianças. A cada edição, Douglas tenta ampliar as reflexões sobre a Paixão de Cristo. ;O texto, eu conheço, mas sempre tento melhorar a performance, lembrar tudo o que já me ensinaram sobre o papel e o porquê de Jesus ter passado pelo que passou;, conta. À véspera do grande dia, a expectativa é grande. ;Ao mesmo tempo que quero que chegue logo, também desejo que demore para acontecer, porque este é meu último ano na via-sacra das crianças. Já estou em idade de ir para a do Morro;, explica.
Representar Maria, por sua vez, é uma forma de expressar toda a emoção que a história estimula em Layse Loane Menezes de Santana, 15. Este é o segundo ano que a garota interpreta o papel. ;O amor de Maria por Jesus é muito emocionante;, descreve. O interesse pela atividade começa cedo. Aos 7 anos, Renan Marques de Santana participa como parte do povo que acompanha a trajetória de Cristo. ;Vim porque um primo já era da via-sacra e me convidou. Participei de todos os ensaios nos fins de semana;, conta.
A empolgação por participar de uma etapa crucial para a fé católica faz Cássio Santana de Almeida, 16, priorizar ensaios e encontros relacionados à encenação. ;Eu deixo de fazer qualquer coisa ; estudar, sair, ir para a rua ; para estar aqui.; Ele interpreta o centurião, soldado que bate em Jesus ao longo do calvário. ;É difícil, mas muito gratificante. Sempre quis ser centurião, acho o figurino bonito;, diz. Ele também participa da encenação no Morro da Capelinha, como povo. ;Observo bastante a do Morro para aprender;, garante.
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