Cidades

Casa do Cantador homenageia população nordestina da cidade

Também no P Sul, campos localizados nas entrequadras são celeiros de talentos do futebol amador

postado em 27/03/2016 08:02

João Lucas e Jean participam do Otaloukos, grupo que reúne fãs de histórias em quadrinho e outras expressões da cultura japonesa


Um dos cartões-postais de Ceilândia, a Casa do Cantador, localizada no P Sul, homenageia toda a população que veio do Nordeste do país para construir Brasília e que deixou de forma marcante suas características na região administrativa. O clima de cidade do interior, o sotaque e o acolhimento são alguns dos traços herdados dessa povo batalhador. É por isso que, atualmente, a Casa abre as portas para as mais diversas manifestações culturais. Festivais de rock, de rap e até fãs da cultura otaku têm espaço por lá.

;Como uma boa casa nordestina, o que manda é a receptividade;, garante o diretor da Casa, Francisco de Assis Chagas Filho, o Neném. Ele explica que, como não se trata de um centro de tradições nordestinas, não há porque deixar de fora outras formas de arte, sem perder é claro, o espaço para o repente. ;Faltam aparelhos de cultura para comportar tantas manifestações artísticas e culturais. E a Casa do Cantador vem tentando amenizar essa falta de espaços;, diz. Hoje, são oferecidas até mesmo aulas de capoeira, de DJ e de percussão.

O Otaloukos, que reúne fãs da cultura otaku, foi um dos grupos que a casa abrigou recentemente. Além de abertura para promover eventos, eles têm um espaço reservado na biblioteca para gibis e mangás. O historiador Jean Alisson Santos, 31 anos, é o criador do grupo e fala sobre essa paixão. ;Vem desde o Jiraiya, sou apaixonado pela série. Quando passava na tevê, eu parava tudo o que estava fazendo para assistir. Ainda me emociono quando ouço a música (de abertura);, conta.

Ele também levou muitas broncas da mãe por causa do envolvimento com a série, que estreou no Brasil em 1989, na extinta Rede Manchete, e tinha como protagonista um super-herói. ;Eu usava um cabo de vassoura como espada e saía batendo nas plantas;, recorda. Depois, veio o clássico desenho animado Cavaleiros do Zodíaco e, até hoje, o coração é dividido entre as duas séries. Em 2006, teve a ideia de reunir um grupo de ;otaloukos; depois de participar de uma disputa de videogame no Cerrado Otaku, que ocorreu em Ceilândia.

O primeiro evento que Jean organizou ocorreu em 2008. Hoje, o grupo promove três encontros por ano: a Feira Otaku, que, neste ano, reuniu 500 pessoas; o Festival Otaloukos, que contou com 700 participantes no ano passado; e a Convenção Cultural Geek (CCG), criado em 2015. Em todos, são arrecadados alimentos não perecíveis para doação. A ideia é que se mantenham no P Sul, com exceção da CCG, mais comercial, que deve ocorrer em Taguatinga neste ano. João Lucas da Cunha Rodrigues, 16 anos, é um dos otaloukos mais novos. Conheceu o grupo por meio de amigos e participou pela primeira vez do festival em 2014. A paixão dele é por quadrinhos e séries.

Em campo
Da cultura ao esporte, o P Sul conta com muitos moradores dispostos a contribuir para uma cidade cada vez melhor. Alexandre Sydnei Meschick, 39 anos, desenvolve trabalho voluntário há 13 anos. O ex-jogador dá aulas de futebol para criança às terças, quintas e aos sábados. ;O que eu passo para eles é isso: falo da minha história no futebol, da minha família;, elenca. Conhecido como Pelé, ele ganhou o apelido não em homenagem ao rei do futebol, mas porque jogava no antigo Pelezão, campo que ficava atrás do ParkShopping. Com o tempo, virou Pelezim, até ser Pelé.

Durante a carreira, que terminou em 2000, jogou em times como o Brasília, o Comercial ; hoje Bandeirante ; e no Recanto. Já ganhou prêmios pela iniciativa com as crianças do P Sul e orgulha-se ao citar os times que receberam jogadores revelados naquele campo: Goiás, Tombense, Brasília, Taguatinga e Drolândia são alguns deles. Há até aqueles que tiveram a oportunidade de jogar com grandes ídolos do esporte. Pelé conta que, meses atrás, um dos ex-alunos postou foto em uma rede social em que aparece marcando Robinho, num jogo contra o Santos. Mesmo os que não seguiram carreira, mas se tornaram bons pais e trabalhadores, são motivo de orgulho. ;É muito gratificante, significa que seu trabalho foi bom, não foi perdido.;

Dia de festa
As comemorações do aniversário de Ceilândia este ano já começaram. O corte do bolo está marcado para as 9h de hoje, na Feira Central. Até as 18h, ocorre o Domingão da Família, no Centro Cultural ; QNN 13, Área Especial, Ceilândia Norte. Já o Circuito de Feiras começa amanhã e vai até quarta, no mesmo local, das 8h às 18h. Veja a programação completa divulgada pela Administração Regional no site www.correiobraziliense.com.br.

Cultura japonesa
O termo japonês otaku é usado atualmente para designar fãs de anime (as animações), de mangás (os quadrinhos ), e de outros elementos da cultura japonesa.P Norte dita o ritmo da solidariedade

P Norte dita o ritmo da solidariedade

As latas de leite e as panelas da mãe foram os primeiros instrumentos que o músico Wagner Dias, 44 anos, aprendeu a tocar. Para que o contato de outras crianças com a música pudesse ser mais completo, ele decidiu dar aulas de percussão. A primeira oportunidade veio com o programa Amigos da Gente, da Secretaria de Esporte, em Santa Maria. Quando a iniciativa terminou, ele criou o próprio projeto, em 2000, e estendeu o atendimento para Ceilândia.

Chegou a fazer uma subsede na própria casa para continuar funcionando e deu aulas em escolas públicas e em faculdades. Em 2005, foi convidado para ser diretor de bateria da Águia Imperial, escola de samba da cidade, e, hoje, o Bateria Nota Show forma percussionistas que tocam no carnaval. Além das aulas de percussão, são oferecidas oficinas gratuitas de capoeira, artesanato, violão, cavaquinho, dança e ginástica. As atividades deste ano começam amanhã.

Wagner concilia o trabalho de músico com o de bombeiro e afirma que nunca teve problemas em fazer tudo. Ele entrou para o Corpo de Bombeiros Militar do DF em 1991. Nascido no Rio de Janeiro, mora na região administrativa há 38 anos. ;Tudo o que eu construí no início de carreira passou por Ceilândia, o reconhecimento que eu tenho hoje, as coisas boas, as coisas ruins, a fama, as críticas, a família. Tudo isso foi construído aqui.;

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