Ana Maria Campos
postado em 27/03/2016 15:56
Tempestade à vistaAs manifestações em Brasília têm sido até agora um mar calmo, com ondas, mas sem grandes estragos. Mas a correnteza vai mudar e há risco de tempestade. Na quinta-feira, 31 de março, os dois lados da crise política prometem ir às ruas, numa data emblemática, o aniversário do golpe militar de 1964. Para tentar reduzir o risco de confrontos, a Secretaria de Segurança Pública e Paz Social tem reuniões com líderes dos dois movimentos nesta segunda-feira, para abrir o diálogo e organizar o campo de guerra.
Interlocução federal
O tsunami maior, no entanto, na Esplanada dos Ministérios deve ocorrer em meados de abril, no dia em que a Câmara dos Deputados votar o afastamento da presidente Dilma Rousseff. A tendência hoje é que a cassação seja aprovada em plenário. Petistas não vão aceitar passivamente. O governador Rodrigo Rollemberg (PSB) está bem preocupado com o que está por vir. Para conter possíveis bombas, ele busca um diálogo maior com a área de inteligência do governo federal.
Na porta de Barroso
O presidente da comissão do impeachment na Câmara dos Deputados, Rogério Rosso (PSD), vai amanhã ao Supremo Tribunal Federal (STF) para audiência no gabinete de Luís Roberto Barroso. O ministro deu o voto vencedor no julgamento sobre o rito do processo que pode levar à cassação do mandato da presidente Dilma Rousseff. Trata-se de uma visita agora, para evitar problemas depois. A maior preocupação de Rosso é impedir a judicialização do debate político com paralisações determinadas pelo STF, a pedido da defesa. Por isso, ele quer ajustar o trâmite às regras constitucionais. Rosso vai ao Supremo acompanhado do relator da comissão do impeachment, Jovair Arantes (PTB-GO).
Caminhos separados
Justamente para evitar a recontagem dos prazos, o novo pedido de impeachment que chega amanhã ao Congresso, protocolado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), não deve ser juntado ao processo, já em andamento, que trata das pedaladas fiscais da presidente da República. Foi o que aconteceu na semana passada quando Rogério Rosso voltou atrás na intenção de juntar a delação premiada do senador Delcídio do Amaral ao caso atual em discussão.
Presidência
A depender da condução dos trabalhos na comissão de impeachment, o deputado Rogério Rosso (PSD-DF) pode se tornar nome de consenso para a presidência da Câmara dos Deputados no biênio 2017/2018.
Sem lançamento oficial
As quatro referências a pagamentos ao ex-governador Agnelo Queiroz (PT) na superplanilha da Odebrecht, que vazou da Operação Lava-Jato, não constam da prestação de contas do petista das campanhas de 2010 e de 2014. O advogado do petista, Paulo Guimarães, diz que não haverá nenhum comentário sobre o assunto até ter acesso a todas as informações sobre a investigação.
Número do PMDB
Na planilha da Odebrecht que lista R$ 240 mil em pagamentos a Agnelo, aparece, para depósito, uma conta do Banco do Brasil com o sugestivo número 1515-6. Marca registrada do PMDB.
Ops!
O partido atual do deputado Cláudio Abrantes é a Rede e não mais o PT, como dito aqui ontem.
Mandou mal
Apesar de decisão judicial que suspendeu a posse, o nome do ex-presidente Lula apareceu, durante a semana, no expediente do Diário Oficial da União como
ministro-chefe da
Casa Civil.
Mandou bem
O juiz Sérgio Moro aparece em 13; lugar na lista da revista americana Fortune entre as 50 personalidades mais influentes do mundo. Está na frente do pop-star Bono, vocalista do U2.
"Na disputa do poder pelo poder, o PT está jogando suas várias conquistas no lixo"
Rodrigo Delmasso, Deputado distrital (PTN)
"Corrupção não é um problema só do PT"
Ricardo Vale, Deputado distrital (PT)
À QUEIMA-ROUPA
Márcia de Alencar,
Secretária de Segurança e Paz Social
Até agora, as manifestações políticas em Brasília têm sido pacíficas, com apenas alguns contratempos. O clima dos protestos é de paz ou há uma forte estrutura de segurança para evitar conflitos?
As manifestações têm sido pacíficas pelas estratégias do sistema de segurança do Distrito Federal e do governo federal. Essa atuação conjunta e integrada faz com que os moradores possam manifestar sua vontade de forma diversa, sem conflitos.
Com o avanço do processo de impeachment, acha que há riscos de confrontos?
O acirramento da discussão e da decisão no Congresso Nacional em relação ao impeachment fazem necessário que sejamos ainda mais sutis e inteligentes na forma de prevenir um risco de confronto real.
Qual é a estratégia?
Uma maior integração entre as agências de inteligência e o diálogo mais intenso com os dois movimentos antagônicos.
Na manifestação do dia 13 de março, a senhora teve de intervir com a advertência a aliados da presidente Dilma Rousseff de que não poderiam ocupar o mesmo espaço que os contrários ao impeachment; Foi uma articulação difícil?
Aquela decisão foi técnica e racional, para evitar confrontos. Adotamos a perspectiva do que está previsto no protocolo em relação à Constituição. Grupos antagônicos não podem se manifestar no mesmo território, no mesmo espaço e no mesmo horário. A recomendação é de que mantenham uma distância de no mínimo cinco quilômetros. Foi o que pedimos.
Vai ser bem difícil impedir que manifestantes contra e a favor do impeachment protestem no dia da votação do impeachment na Câmara dos Deputados. Como lidar com isso?
Passa a ser um fenômeno de massa. Adotamos uma outra estratégia de inteligência. É fundamental que tudo ocorra de forma que não se ponha em risco a vida de nenhum cidadão ou cidadã. Todo nosso esforço é para que as pessoas possam exercer a democracia e que possam respeitar a decisão do nosso Congresso.
O governador Rodrigo Rollemberg não adotou nenhuma posição oficial contra ou a favor do impeachment da presidente Dilma. Isso ajuda no processo de organização da segurança das manifestações?
Ajuda fundamentalmente a ele a se confirmar como um grande estadista. Ele não é apenas o governador. Precisa garantir, como chefe de Estado, que prevaleça a paz e a segurança de todos.
É difícil ser uma mulher no comando das forças de segurança?
É um aprendizado de parte a parte. Me sinto respeitada por todos os colegas das forças de segurança. Estamos muito integrados.
Há possibilidade de haver privilégios a políticos, como o ex-senador Luiz Estevão, o ex-vice-governador Benedito Domingos e o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, no sistema penitenciário do DF?
Absolutamente. Eles são submetidos ao mesmo protocolo para todos que estão em privação de liberdade, seja definitiva, seja provisória.