Em tempos de agitação na democracia, fazer turismo pela Praça dos Três Poderes é também refletir sobre as prioridades para o país. Um passeio pelo Congresso Nacional suscita questionamentos sobre o perfil dos representantes que ocupam as 513 cadeiras, na Câmara dos Deputados, e as 81, no Senado. Do outro lado da rua, o Palácio do Planalto remete aos desdobramentos do processo de impeachment da presidente Dilma Roussef, em andamento desde a semana passada. Logo à frente, o prédio do Supremo Tribunal Federal (STF) faz recordar os critérios para o rito do afastamento e a quantidade de processos em julgamento contra os principais atores do atual momento político. Assim, as duas principais vocações da praça ; sede administrativa do país e ponto turístico ; se tornam indissociáveis aos olhos dos turistas. Apesar disso, os locais estavam fechados à visitação, neste feriado.
Pela segunda vez em Brasília, Liliane Santana, 22 anos, teve a expectativa de conhecer o Congresso e o Palácio da Alvorada frustrada. A jovem veio de Recife para visitar amigos e vai deixar a cidade desapontada. ;Está tudo fechado. Queria ver de perto onde ocorrem os debates e as decisões políticas e não tive oportunidade;, reclama. Seja por interesse estético, seja por significado institucional, a estrutura administrativa desperta a curiosidade do desenvolvedor de sistemas Klênio Ribeiro de Oliveira, 26. ;Cheguei aqui e queria me aproximar dos locais, mas não foi possível;, conta o rapaz, morador de Timbaúba (PE).
Estar próximo ao Congresso Nacional traz ao mestre de obra Danilo Márcio de Souza Simões, 32 anos, a percepção de que a crise não deve perdurar. ;Os governantes passam, quem fica é o povo;, afirma. Ele mora em Goiânia e veio visitar a companheira, a enfermeira Mariana Zílio Simões, 28, que trabalha na capital federal. ;Isso aqui é do Brasil, não de um partido ou de um político;, defende. Para Mariana, a atual turbulência vai ter resultado. ;Acho que haverá uma mudança política importante;, acredita. Os dois não puderam conhecer os plenários nem salões do prédio, uma vez que o Congresso Nacional suspendeu a visitação nos quatro dias de feriado, em razão da possibilidade de manifestações no período. Dessa forma, a Secretaria de Polícia Legislativa recomendou a interrupção para proteger patrimônio e servidores
Do clima de tensão que paira pela região, a professora Silmere Alves, 39 anos, e a família encontraram na Praça dos Três Poderes somente os resquícios de bonecos com o rosto da presidente Dilma e do ex-presidente Lula. O artefato foi incendiado por ocasião da malhação de Judas, na tarde de sábado. ;Não presenciamos nenhuma manifestação, desde que chegamos, na quinta-feira. Mas dá para ver que fizeram uma fogueira aqui;, diz, indicando o que sobrou da brincadeira. ;Vejo como um momento decisivo para o país, entre a democracia e a ditadura;, afirma Silmere. Passear pela cidade com os filhos Gabriel, 15, e Gustavo, 6, é recordar as origens. ;Moramos em Goiânia, mas sou nordestina. Andar por Brasília é emocionante, porque me lembra que a cidade foi construída com o sangue de muitos nordestinos;, conta.
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