postado em 30/03/2016 06:00
O serralheiro Dilson Barbosa dos Santos nasceu às 5h de 3 de março de 1959. Às 5h de 3 de março de 1993, era vez de o filho Adilson Barbosa dos Santos chegar ao mundo. ;Está marcado no registro dele e no meu também.; A coincidência no calendário familiar deixou de ser comemorada há dois anos, quando Adilson, 20 anos, foi assassinado com seis tiros em frente a uma lanchonete de Águas Lindas (GO). O crime, de acordo com a Polícia Civil de Goiás, teria sido motivado por ciúmes: o acusado acreditava que o jovem estava dando em cima da namorada dele.
;Para você ter ideia de como minha vida mudou: primeiro, mataram meu menino. Em um mês, meu pai morreu. Depois de quatro dias, morreu meu irmão caçula. E, com três meses, minha mulher morreu de AVC;, conta um resignado Dilson. Antes um religioso ferrenho, ele garante que a injustiça sentida pela morte do filho fez com que ele decidisse abandonar a igreja. ;Depois que ele se foi, todos os meus filhos se desviaram do caminho de Deus. Convivi com a violência minha vida toda. Em São Paulo, passava por cima de cadáver para ir trabalhar. Mas nunca achei que isso chegaria à minha família.; A história do serralheiro causa comoção, mas não é preciso muito esforço para ouvir relatos parecidos no Entorno do Distrito Federal.
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[SAIBAMAIS]De acordo com o Atlas da violência 2016, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) na semana passada, a região, composta por 22 municípios, teve uma taxa de homicídios em 2014 de 51,85 mortes para cada 100 mil habitantes ; 78,1% maior que a do Brasil no mesmo período, que foi de 29,1. E Águas Lindas é a cidade na qual a possibilidade de um jovem negro ser assassinado é maior: de acordo com o estudo Jovens negros e não negros: mortalidade por causas externas na Área Metropolitana de Brasília, publicado pela Codeplan, eles estão 15,6 vezes mais exposto ao homicídio que jovens de outros tons de pele.
As estatísticas endurecem a realidade das famílias que perderam entes queridos. A dona de casa Hellen Priscila Santos Oliveira, 29, diz que há muito tempo não tem medo de viver em Águas Lindas, já que a expectativa que fica é de uma situação que não mudará. ;A vida me tornou uma pessoa de coração muito fechado e, depois da morte do meu irmão, fiquei pior. Agora, só tenho a tristeza de olhar para minha mãe e não ver mais a alegria que a gente sempre via nela.; Ela se lembra exatamente da noite do assassinato de Jhonatas Abraão Santos Oliveira. ;Eu estava vendo a novela e ouvi os cinco tiros. Na mesma hora, tive certeza: era ele quem tinha morrido.;
Uma prima chegou para avisá-la do que havia acontecido, mas Hellen a interrompeu, garantindo que já sabia a verdade, mesmo antes de alguém contar a ela. ;Mesmo assim, quando cheguei, vi a pior cena da minha vida: ele no chão, sangrando, e eu falando que ele deveria ter saído daqui. Sei que ele fez escolhas erradas, mas a família sempre sente muita dor.; O jovem morreu aos 23 anos, alvejado por cinco tiros em um crime que, de acordo com a polícia, teve como motivação um ajuste de contas por disputas relacionadas ao tráfico de drogas ; razão que, para Hellen, explica o porquê do descaso da Justiça em relação a Jhonatas. ;Ele ficou lá das 22h30 até as 4h, e ninguém se importou. Se a gente tivesse mais oportunidades, a realidade seria diferente, não só para o meu irmão, mas para todos os jovens dessa cidade. Eu tenho um filho entrando na adolescência. O que esse lugar tem oferecer a ele? Aqui, para os jovens, só existem esquina e droga.;
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