Cidades

Morador do DF faz manutenção em academias públicas da Candangolândia

Com dinheiro do próprio bolso, José Rubens Rodrigues comprou as lâmpadas para substituir as que estavam queimadas

postado em 06/04/2016 06:05

Aos 74 anos, o eletricista José Rubens Rodrigues faz a diferença. Inquieto, ele se descobriu no ofício ainda moço, quando trocou a cidade natal, Uberlândia (MG), pela capital recém-fundada por Juscelino Kubitschek, em meados de 1970. Ao desembarcar por aqui, não tardou a trabalhar no ramo e logo abriu uma microempresa na casa onde morava, em Taguatinga. No total, foram mais de 30 anos de atividade e um sem-número de clientes conquistados. Nesse meio tempo, seu Rubens, como ficou conhecido, mudou-se para outra região do Distrito Federal. Na Candangolândia há quase duas décadas, o mineiro radicado no Planalto Central tornou-se figura benquista e bastante conhecida pela vizinhança.


O motivo de tanta admiração: de um ano para cá, ele adotou três das cinco academias ao ar livre instaladas na Candangolândia. Embora sejam de responsabilidade do poder público, é ele quem dá manutenção nos equipamentos com frequência. ;Sempre estou lubrificando, reparando ou trocando as peças. Tenho em casa muitas ferramentas que servem para isso, como máquina de solda e diversos tipos de chaves mecânicas. Não custa nada;, avisa seu Rubens, enquanto aperta a porca de um aparelho destinado a exercícios de membros inferiores. ;Se o negócio começa a gritar, é porque está seco, precisa de lubrificação. Como não espero pelos outros, não vou deixar estragar;, ensina. Mal havia terminado o serviço, e ele já planejava cuidar da iluminação do local, bastante frequentado à noite. Com dinheiro do próprio bolso, comprou as lâmpadas para substituir as que estavam queimadas.


Adepto da pratica de esportes, é usuário assíduo dos espaços. Das cinco academias ao ar livre da região, a mais próxima fica a 3 minutos de sua casa. Dia sim, dia não, está ali para se revezar entre exercícios nos aparelhos, pedaladas e algumas voltas em um campo de futebol. ;Sempre gostei de me movimentar e de fazer caminhada. É bom para saúde do corpo e da mente;, recomenda. Embora compartilhe os aparelhos com dezenas de vizinhos da Candanga, seu Rubens gostaria mesmo que a mulher dele, Nelci, 53 anos, lhe fizesse companhia. A rotina da mulher, entretanto, não permite. ;Ela trabalha em shopping. Sai muito cedo de casa e só volta depois das 21h;, explica.


Entusiasta do conceito da cidadania ao pé da letra, ele defende que todos podem colaborar para um mundo melhor, a começando pelo que está ao redor. ;Tento inspirar as pessoas. Quando estou aqui, elas ajudam, seguram os equipamentos. Mas acredito que, se cada um fizesse sua parte de um modo geral, teríamos outra sociedade.;


Tal zelo dedicado aos equipamentos de ginástica é o mesmo visto em sua casa. Definindo-se como um eletricista antenado, dotou todos os cômodos do imóvel de instalações modernas, com tudo de primeira linha. ;Botei sensores de lâmpadas e instalei cinco sistemas three-way, que dão opções de apagar e acender a luz de diferentes pontos da casa. Se você estiver no corredor, por exemplo, não precisa voltar no escuro, pois é possível fazer isso se houver outros interruptores;, explica.

O verde e o céu
A relação de amor do mineiro José Rubens Rodrigues com Brasília descortinou-se quando ele se deparou com a arquitetura da cidade. Não à toa, o projeto de Oscar Niemeyer e o traçado urbanístico de Lúcio Costa da longínqua década de 1950 lhe impressionam até hoje. ;Acho incrível a cidade ter nascido de um esboço que sugere um avião. Brasília é uma capital que nasceu muito à frente de seu tempo. O verde e o céu daqui têm uma beleza incrível, diferentes de outras cidades brasileiras;, descreve seu Rubens, cujas lembranças da capital remontam à superquadra modelo 308 Sul.


;Assim que cheguei, me apaixonei pela Igrejinha (Igreja Nossa Senhora de Fátima). Também me recordo do primeiro posto de combustíveis, na entrada da Candangolândia, que tinha o teto com o formato de um disco voador. De noite, quando as luzes estavam acesas, ficava ainda mais parecido. O engraçado é que a estrutura continua no mesmo lugar, bem pertinho da nossa academia.;

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