Aos 74 anos, o eletricista José Rubens Rodrigues faz a diferença. Inquieto, ele se descobriu no ofício ainda moço, quando trocou a cidade natal, Uberlândia (MG), pela capital recém-fundada por Juscelino Kubitschek, em meados de 1970. Ao desembarcar por aqui, não tardou a trabalhar no ramo e logo abriu uma microempresa na casa onde morava, em Taguatinga. No total, foram mais de 30 anos de atividade e um sem-número de clientes conquistados. Nesse meio tempo, seu Rubens, como ficou conhecido, mudou-se para outra região do Distrito Federal. Na Candangolândia há quase duas décadas, o mineiro radicado no Planalto Central tornou-se figura benquista e bastante conhecida pela vizinhança.
O motivo de tanta admiração: de um ano para cá, ele adotou três das cinco academias ao ar livre instaladas na Candangolândia. Embora sejam de responsabilidade do poder público, é ele quem dá manutenção nos equipamentos com frequência. ;Sempre estou lubrificando, reparando ou trocando as peças. Tenho em casa muitas ferramentas que servem para isso, como máquina de solda e diversos tipos de chaves mecânicas. Não custa nada;, avisa seu Rubens, enquanto aperta a porca de um aparelho destinado a exercícios de membros inferiores. ;Se o negócio começa a gritar, é porque está seco, precisa de lubrificação. Como não espero pelos outros, não vou deixar estragar;, ensina. Mal havia terminado o serviço, e ele já planejava cuidar da iluminação do local, bastante frequentado à noite. Com dinheiro do próprio bolso, comprou as lâmpadas para substituir as que estavam queimadas.
Adepto da pratica de esportes, é usuário assíduo dos espaços. Das cinco academias ao ar livre da região, a mais próxima fica a 3 minutos de sua casa. Dia sim, dia não, está ali para se revezar entre exercícios nos aparelhos, pedaladas e algumas voltas em um campo de futebol. ;Sempre gostei de me movimentar e de fazer caminhada. É bom para saúde do corpo e da mente;, recomenda. Embora compartilhe os aparelhos com dezenas de vizinhos da Candanga, seu Rubens gostaria mesmo que a mulher dele, Nelci, 53 anos, lhe fizesse companhia. A rotina da mulher, entretanto, não permite. ;Ela trabalha em shopping. Sai muito cedo de casa e só volta depois das 21h;, explica.
Entusiasta do conceito da cidadania ao pé da letra, ele defende que todos podem colaborar para um mundo melhor, a começando pelo que está ao redor. ;Tento inspirar as pessoas. Quando estou aqui, elas ajudam, seguram os equipamentos. Mas acredito que, se cada um fizesse sua parte de um modo geral, teríamos outra sociedade.;
Tal zelo dedicado aos equipamentos de ginástica é o mesmo visto em sua casa. Definindo-se como um eletricista antenado, dotou todos os cômodos do imóvel de instalações modernas, com tudo de primeira linha. ;Botei sensores de lâmpadas e instalei cinco sistemas three-way, que dão opções de apagar e acender a luz de diferentes pontos da casa. Se você estiver no corredor, por exemplo, não precisa voltar no escuro, pois é possível fazer isso se houver outros interruptores;, explica.
O verde e o céu
A relação de amor do mineiro José Rubens Rodrigues com Brasília descortinou-se quando ele se deparou com a arquitetura da cidade. Não à toa, o projeto de Oscar Niemeyer e o traçado urbanístico de Lúcio Costa da longínqua década de 1950 lhe impressionam até hoje. ;Acho incrível a cidade ter nascido de um esboço que sugere um avião. Brasília é uma capital que nasceu muito à frente de seu tempo. O verde e o céu daqui têm uma beleza incrível, diferentes de outras cidades brasileiras;, descreve seu Rubens, cujas lembranças da capital remontam à superquadra modelo 308 Sul.
;Assim que cheguei, me apaixonei pela Igrejinha (Igreja Nossa Senhora de Fátima). Também me recordo do primeiro posto de combustíveis, na entrada da Candangolândia, que tinha o teto com o formato de um disco voador. De noite, quando as luzes estavam acesas, ficava ainda mais parecido. O engraçado é que a estrutura continua no mesmo lugar, bem pertinho da nossa academia.;
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