Otávio Augusto
postado em 08/04/2016 06:00
Sala de espera lotada. Mobilização na distribuição de senhas. Idosos, crianças e gestantes angustiados pela demora na fila de espera. A quinta-feira frenética responde por um nome: H1N1. A corrida pela imunização contra a gripe suína levou centenas de pessoas a uma clínica de um shopping no Cruzeiro. O endereço é um dos únicos da capital federal que tem o insumo disponível. Levantamento feito pelo Correio em 10 locais onde a vacinação ocorre mostra que em nenhum existe o imunobiológico disponível. Em apenas quatro há previsão de chegada. Ontem, um homem morreu em um hospital privado sob suspeita de ter sido infectado pelo vírus. A Secretaria de Saúde, porém, não foi notificada sobre o caso.
Nem o painel de senhas resistiu à procura frenética. O aparelho programado para registrar até o número 300 enguiçou na senha 201. Funcionários se revezavam na organização dos pacientes. Somente ontem, cerca de 500 vacinas foram aplicadas ; cada uma custa R$ 120. Na quarta-feira, o número chegou a 850, segundo dados da clínica. Por volta das 14h30, a situação era de colapso. A gerência do laboratório decidiu suspender os atendimentos ; o tempo de espera passava de quatro horas. Em alguns momentos, houve princípio de tumulto.
O medo da fisioterapeuta Renata Zanchet, 40 anos, é de que as 2 mil doses da vacina tetravalente ; que protege contra quatro tipos de gripe (veja quadro) ; não sejam suficientes. Ontem, ela saiu frustrada por não ter conseguido se vacinar. ;O vírus começou a circular mais cedo e o número de doentes e mortos não para de crescer;, explica a moradora de Águas Claras, que promete tentar se imunizar hoje.
O Executivo distrital estuda a possibilidade de antecipar o calendário de vacinação contra a gripe H1N1, marcado para começar em 30 de abril. Hoje, está prevista a chegada de 160 mil doses do imunobiológico ao Distrito Federal, segundo o Ministério da Saúde. Ao todo, cerca de 300 mil doses estarão disponíveis na capital até o início da campanha.
A servidora pública Érica Dias Argolo, 35, e a babá Marivalda Ramos Rodrigues, 41, chegaram por volta das 11h para serem imunizadas ; senha 296. Às 15h30, elas entraram na sala de vacinação. ;Há um pânico geral, o terrorismo dos números não para. A gente fica com medo;, reclamou Érica. Ela é mãe de Miguel, de 3 meses, que será vacinado assim que entrar na faixa etária permitida. ;Vou levá-lo à rede pública;, garante.
Marivalda tomou a vacina pela primeira vez. ;Está uma repercussão muito grande em torno do vírus. Tenho medo que a situação chegue ao ponto da de 2009. As pessoas saíam de máscara na rua, com receio de se contaminar;, lembra. Agora, é se preparar para imunizar o restante da família. ;Aqueles que se encaixam no grupo atendido pelo governo vão assim que iniciar o trabalho. Os outros, eu vou fazer uma força para pagar, apesar de ser um preço salgado;, avalia.
Elaine Helena Rodrigues Souza, responsável pela clínica, ditava o número das senhas e controlava o fluxo de atendimento. ;Pedimos paciência aos clientes. É uma situação que nunca ocorreu aqui. Vamos montar um esquema de trabalho que otimize o serviço. Mas não vejo necessidade para essa avalanche. As pessoas estão desesperadas. Hoje (ontem), já amanhecemos com 200 pessoas na porta da clínica;, argumenta.
Eduardo Espíndola, especialista em doenças infectocontagiosas, garante que a correria em nada adianta. ;O principal agora é entender o motivo de o vírus ter começado a circular antes de seu período de sazonalidade e manter o padrão de higiene. Essa loucura para se vacinar não adianta, o vírus já está aí. Se um paciente toma a vacina agora, a imunização começa a valer entre 30 e 60 dias;, explica.