Desde que encontrou um telefone perdido entre uma lixeira e um banco na área comum de um shopping do Lago Norte, em outubro do ano passado, o advogado Gustavo Arthur Coelho Lobo de Carvalho, 41 anos, tenta encontrar o dono do aparelho para devolvê-lo. Ele procurou a empresa de telefonia móvel responsável pelo chip que estava dentro do iPhone (avaliado em R$ 2,5 mil), que afirmou ter todas as informações do cliente, mas, por medida de segurança, não as forneceu. A história tornou-se tão incômoda que Gustavo recorreu à Justiça.
;Foram meses ligando lá e pedindo para que as pessoas ajudassem. Eu não pedi informações sobre o cara, não me interesso pela vida dele, só queria encontrá-lo e devolver o telefone;, contou. Outra opção, segundo Gustavo, era tentar fazer com que a própria Claro intermediasse a devolução, sem que nenhuma das informações do cliente fosse divulgada. ;Mas eles negaram. Dizem não ter autonomia para entrar em contato com os clientes. Como? Essas empresas vivem ligando pra gente, oferecendo coisa, atentando. Como não podem ligar?;, reclamou.
Enquanto brigava com a empresa de telefonia, o advogado contou a história a um amigo que entende tudo de internet. "Descobrimos que havia uma falha de segurança no aparelho e tentamos ver se dava para conseguir algum contato desse cara. De fato, existia uma brecha, mas acabamos fazendo a atualização do sistema operacional do telefone e perdemos tudo;, disse.
Em janeiro, após três meses de tentativas frustradas, Gustavo Carvalho tomou uma decisão drástica. Entrou com um processo de indenização contra a empresa Claro no Juizado Especial do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), segundo ele, com base em uma jurisprudência do Código Civil sobre achados e perdidos. Após consulta na tabela da Ordem dos Advogados do Brasil, ele resolveu fixar o valor em R$ 1,2 mil.
O Código Civil prevê que a pessoa que gasta tempo e dinheiro tentando devolver uma coisa encontrada na rua tem o direito de pedir uma recompensa. Valendo-se desse princípio, Gustavo alegou que, como a Claro o impedia de contatar o dono do iPhone, e como ele tinha tido algum prejuízo tentando fazê-lo, gostaria que a própria empresa o indenizasse. ;A ideia era fazer um acordo, tentar colocar a história na Justiça para os caras me levarem a sério. Eu nem quero o dinheiro;, afirmou. Nos autos do processo ; o qual o Correio teve acesso ;, o advogado abriu mão dos honorários em prol do Fundo de Defesa do Consumidor.
A conciliação ocorreu nesta sexta-feira (8/4), e a Claro preferiu não fazer acordo. Ainda não há data para a audiência de instrução. ;Acho um absurdo isso. A burocracia do país me impedindo de fazer uma coisa óbvia, que aprendemos na escola: devolver o que não é meu;, finalizou. A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Claro em Brasília, mas até a publicação da matéria não conseguiu contato.