postado em 10/04/2016 07:59
As 70 mesas são as mesmas desde a inauguração. Feitas de madeira de ipê e superfície de fórmica e fixadas no chão pelo próprio peso, elas fazem parte do cenário que se tornou um dos símbolos da capital. Há 50 anos, o Beirute recebe de braços abertos todos que queiram almoçar um bom filé à parmegiana ou tomar uma cerveja gelada depois do trabalho. O cardápio pouco mudou. Numa noite movimentada de quinta-feira, os garçons, com seus característicos blazers vermelhos de lapela preta, levam de um lado para o outro as bandejas prateadas com porções de especiarias árabes. Aliás, foram eles que ajudaram a criar a aura folclórica de um dos mais tradicionais bares da cidade. É difícil descobrir quem é o mais antigo na empresa.
[SAIBAMAIS]Em uma roda de funcionários, eles começam a fazer os cálculos. Puxam pela memória para descobrir quem chegou primeiro e, no fim, parecem não ter certeza da resposta. Grande parte tem mais de 20 anos de casa. Com eles, não tem essa história de ;camarada;, ;patrão;, ;amigo;. Eles sabem o nome dos clientes e também são chamados pelos nomes.
Todos esses ingredientes dão forma à principal característica do Beirute: a tradição. O pioneirismo está estampado em fotos e recortes de jornais colados na parede; na escada estreita que dá acesso aos banheiros, complicada de subir e descer após alguns drinques; ou na mesa mais charmosa, carinhosamente batizada de Dolores Duran.
A meia-idade, celebrada no próximo sábado, parece não lhe ter feito perder o fôlego. Mas os tempos são outros. A efervescente geração dos anos 1970 e 1980, que cresceu sob as rédeas curtas da ditadura militar, não provoca mais nas autoridades o receio de que o bar da esquina da 109 Sul seja um antro de conspiração de intelectuais, estudantes e artistas a serviço da subversão. Mesmo assim, ainda guarda ares de aceitação das pequenas contravenções.
Prestes a completar 50 anos, o Beirute parece ter muito tempo de vida e muitas histórias para contar. Virou livro. Lançou a própria cerveja. Foi cenário de filmes. Sua trajetória se confunde com a história de Brasília. Por lá passaram artistas como Rita Lee, Renato Russo e Cássia Eller. Alceu Valença escreveu a declaração Te amo, Brasília em uma das mesas do bar. Caetano Veloso até deu uma palinha de Coração vagabundo, dedilhando um violão emprestado por uma moradora da quadra.
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