Cidades

Vândalos ateiam fogo em imagem de orixá na Prainha do Lago Sul

A estátua de Oxalá ficou totalmente destruída. Ela representa o maior símbolo religioso da umbanda e do candomblé

Nathália Cardim
postado em 11/04/2016 08:11
O presidente da Federação de Umbanda e Candomblé do DF foi, no início da madrugada, à delegacia especializada para registrar o boletim de ocorrência
Representantes de religiões de matrizes africanas do Distrito Federal denunciaram mais um ataque de intolerância contra um símbolo sagrado. Na madrugada desta segunda-feira (11/4), por volta de 0h, um grupo de criminosos ainda não identificado, incendiaram uma das estátuas, na Praça dos Orixás, na Prainha do Lago Paranoá. A estátua de Oxalá ficou totalmente destruída. Ela representa o maior símbolo religioso da umbanda e do candomblé..

O caso aconteceu três dias após a criação da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin), que foi inaugurada na última quinta-feira (7/4). À frente da nova unidade, está a delegada Glaucia Cristina da Silva, 45 anos e há 20 na corporação.

O presidente da Federação de Umbanda e Candomblé do DF, Rafael Moreira, conta que esse tipo de vandalismo tem ocorrido com frequência: "Essa mesma estátua foi depredada no último dia 2 e agora novamente. Os moradores de rua que ficam no local contaram que viram um grupo de 6 pessoas ás 21h de hoje no local, mas não temos mais informações de quem pode ter feito isso". Afirmou.
Para o presidente da Federação de Umbanda e Candomblé do DF, Rafael Moreira, intolerância religiosa pode ter sido um motivo o vandalismo
Rafael relata que é necessário algum sistema de segurança no local. "Pedimos há anos que sejam instaladas câmeras no lugar. A ronda que é feita ocorre esporadicamente e temos que lidar com o que consideramos que possa ser motivado por intolerância religiosa". Segundo o Corpo de Bombeiros assim que foram acionados se dirigiram ao local e apagaram o fogo, que já tomava toda a estátua.

A criação da Decrin foi anunciada pelo governador Rodrigo Rollemberg durante visita ao terreiro de candomblé Axé Oyá Bagan, no Paranoá, em 28 de novembro de 2015. O galpão do local foi destruído por um incêndio no dia anterior e havia indícios de ação criminosa ; versão derrubada por laudo da Polícia Civil e do Corpo de Bombeiros Militar do DF que apontou um curto-circuito como causa do fogo.

Todos os crimes apontados pelos Estatuto do Idoso, Estatuto da Pessoa com Deficiência e Estatuto da Igualdade Racial são de competência da nova unidade. No caso de preconceito por orientação sexual, os policiais registram como injúria, conforme o Código Penal.

Praça dos Orixás


A prainha se tornou referência para os praticantes de religiões afro-brasileiras e abriga, desde o ano de 2000, 16 estátuas de divindades. Todas são de autoria do artista baiano Tatti Moreno, fundidas nos mesmos moldes das instaladas no Dique do Tororó, em Salvador.
Investigação

No dia 29 de janeiro, o Centro Espírita Auta de Souza, em Sobradinho II, foi tomado por chamas que afetaram a estrutura interna do local. Inicialmente, testemunhas alegaram ter sido um acidente, mas investigação da Polícia Civil descobriu se tratar de um incêndio criminoso motivado por divergência religiosa.

O inquérito foi encerrado e encaminhado à Justiça na quinta-feira (7/4), pela equipe da recém-criada da Decrin. A delegada disse que policiais identificaram a existência de várias garrafas PET no lugar. Durante as diligências, imagens captadas pelo circuito interno de um posto nas proximidades do centro espírita mostraram dois homens comprando R$ 80 em combustível. Ferido durante o incêndio no espaço religioso, um jovem passou de vítima para suspeito de causador das chamas.

Após interrogatórios, quatro pessoas foram detidas: a responsável pelo incêndio e as que a ajudaram ; tanto na compra do combustível quanto na ida ao centro. Depois da prisão, o motivo religioso pelo crime foi confirmado. Esse foi o primeiro inquérito concluído na nova unidade policial.

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