Luiz Calcagno
postado em 17/04/2016 07:20
Não fosse um muro dividindo a paisagem, seria possível acreditar que a Esplanada dos Ministérios era o Eixão do Lazer. Na manhã de ontem, alguns brasilienses aproveitaram as seis faixas ; principalmente da S1 ; para andar de bicicleta e passear pelo coração da capital federal. O horizonte de céu claro e limpo trouxe suavidade para o centro político, em contraste marcante com o paredão de metal, erguido para separar manifestantes contra e pró-impeachment durante a votação do processo na Câmara dos Deputados. Apesar da alegação de preservação da segurança e da integridade física de participantes de ambos os lados, a divisão do gramado central incomodou a quem passou pelo local.
Cercear o contato visual por meio do muro pode ter um efeito contrário ao da proteção, na avaliação do ambulante Antônio Costa, 62 anos. ;Um grupo vai querer saber o que o outro está fazendo na hora da votação. Eles vão dar um jeito de ver como está do outro lado;, acredita. Não bastasse o muro, as barreiras metálicas também causam desconforto. ;Essas barras de ferro são péssimas e um perigo. Quem garante que não vão tentar tirá-las de lá?;, questiona o vendedor. Desde sexta-feira, Costa vai para a Esplanada para tentar lucrar. ;Fiquei sabendo que teria manifestação e vim. Na sexta, o movimento foi bom, valeu a pena. Voltei hoje (ontem) e pretendo vir para a votação;, conta.
O impedimento da livre circulação pela área foi duramente questionado pela diarista Sueli da Silva Melo, 39 anos. A paraibana veio de Cruz do Espírito Santo (PB) para acompanhar o atual momento político e ficou bastante frustrada com tantas barreiras. ;Aqui é um espaço público, não deveria ficar fechado para a população. Isso é uma ofensa;, argumentou. Ela acompanhou o placar contra e a favor, instalado de frente para o Congresso Nacional, e estará no gramado para ver a votação. ;É minha primeira vez em Brasília e vim por causa do impeachment. Nunca vimos nada como isso antes;, justifica.
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