Cidades

Escolas de área rural em Ceilândia têm água poluída, diz Vigilância

Secretaria afirma que adensamento populacional afetou os rios da região. Solução provisória é o fornecimento de caminhões-pipa

Flávia Maia
postado em 25/04/2016 06:00
José Romualdo, funcionário da Caesb, dirige caminhão-pipa todos os dias para
Por trás de fachadas bem pintadas e do ambiente organizado, escolas da área rural de Ceilândia, no Distrito Federal, enfrentam um problema básico de infraestrutura: as torneiras trazem água contaminada. A cor marrom, a consistência barrenta e o gosto de ferrugem no líquido, assim como as constantes diarreias nas crianças, assustaram professores e pais, que procuraram ajuda técnica. Laudos feitos pela Vigilância Ambiental confirmaram que a água estava poluída com coliformes fecais e outras bactérias prejudiciais à saúde.

Para evitar a contaminação dos alunos e professores, a saída emergencial da Secretaria de Educação foi suspender o uso do poço e pedir ajuda para o caminhão-pipa cedido pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb). Nos dias em que o reforço não chega, os mestres precisam se virar: suspendem as aulas, compram água no comércio próximo ou simplesmente buscam o líquido na casa de quem mora mais próximo da instituição. São mais de 580 estudantes que dependem da regularidade do caminhão-pipa para terem aula normal. A situação se arrasta há mais de um ano, sem nenhuma solução definitiva.

O Centro de Ensino Fundamental Boa Esperança é um desses casos. A diretora da escola, Mirela Cristina da Silva, conta que chegou a buscar água em casa para fazer a merenda escolar. ;Eu e as funcionárias pegamos as panelas da escola e levamos para minha casa. Voltamos com elas cheias de água para cozinhar.; Mirela comenta que os 5 mil litros diários que o caminhão-pipa trazia não eram suficientes para suprir a demanda, uma vez que a escola funciona em três turnos e tem 380 alunos. Foram meses de racionamento e de soluções alternativas até o aumento no volume para 8 mil litros diários.
Segundo a diretora, a contaminação no CEF Boa Esperança aumentou quando o governo suspendeu o contrato com a empresa Fluxor, que fazia a manutenção dos poços. O documento, assinado entre a Fluxor e a Caesb, foi questionado pelo Ministério Público do Distrito Federal e pelo Tribunal de Contas do DF. ;A gente faz o possível para não suspender as aulas. Orientamos que os alunos tragam água de casa;, explica a diretora.

Entre os professores, a sensação é de preocupação. Regiane Rocha, 46 anos, leva água diariamente para os alunos beberem. O líquido fica no armário com outros materiais escolares. ;Eu não confio nessa água. Mesmo que a Caesb traga, os canos e as torneiras devem estar sujos;, desconfia. ;A sorte é que a minha turma é para especiais. Com poucos alunos, eu consigo trazer água para todos.;

Na Escola Classe Jiboia, a vice-diretora Silene Valadares, 46 anos, conta que a poluição da água do poço é visível. ;O gosto de ferrugem é muito forte. Trazíamos água de casa para cozinhar. Agora, quando o caminhão-pipa não vem, a gente pega da nascente que fica atrás da escola. Posso dizer que a água é o maior problema da escola;, comenta.


Pressão urbana
Das 77 escolas rurais da rede pública de ensino, 33 são abastecidas por poços artesianos. No caso de Ceilândia, a pressão urbana na zona rural, com crescimento de regiões como Sol Nascente, Pôr do Sol e Setor O, contaminaram rios da região ; principalmente o Melchior e o Rio Santo Antônio ; e os lençóis freáticos, inviabilizando o uso. Por isso, a preocupação de que outras regiões rurais, que também passam por processo de ocupação irregular, tenham o mesmo problema de contaminação.

;O adensamento da comunidade nas regiões próximas das escolas leva a um excesso de fossas, que contamina o lençol freático. O caminhão-pipa é a solução que a Secretaria de Educação tem para fornecer água potável aos alunos. Estamos respondendo a uma situação que não foi criada pela secretaria;, explica o coordenador da regional de ensino da Ceilândia, Marco Antônio de Souza.
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