Ericamar Guedes de Souza, 27 anos, foi assassinada há seis dias, dentro de casa, no Itapoã. Ela estava grávida e é uma das cinco mulheres mortas desde janeiro no DF por companheiros ou ex-namorados. A partir de agora, a luta contra esse tipo de caso terá uma data para ser lembrada e discutida. O 25 de cada mês será o Dia pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, uma iniciativa da ONU Mulheres. Serão 24 horas de debates e ações voltadas para a mobilização contra o desrespeito ao gênero, o machismo e a misoginia: o Dia Laranja.
Ontem, deu-se a largada do projeto, em parceria com a Universidade de Brasília (UnB). Em um mês, a Coordenação de Direito das Mulheres da UnB registrou sete situações de violência no câmpus. O começo da ação no DF ocorreu com uma aula pública no Centro de Convivência Multicultural dos Povos Indígenas da UnB (Maloca), com a presença de professores, representantes da ONU Mulheres, alunos e interessados no assunto. A intenção é evitar episódios como o de Ericamar e de Louise Ribeiro, 20 anos, assassinada no Laboratório de Biologia da UnB (leia Memória) pelo ex-namorado.
A coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Mulher da UnB, professora Lourdes Bandeira, afirma que o comportamento masculino, na quase maioria dos casos, trata de algo comum e tolerável no século 17. Segundo ela, naquela época, a mulher que trocava o parceiro por outro ou que trazia sobre ela a suspeita de adultério poderia ser justificadamente morta. ;A morte da Ângela Diniz (pelo companheiro, Raul, o Doca Street, em dezembro de 1976, após uma briga na casa de veraneio da vítima, em Búzios) foi importante para começar a desestruturar o crime pela honra. A justificativa foi de que ela não desempenhava mais o papel de esposa. Logo depois, criou-se o slogan ;Quem ama não mata;. Isso tomou grandes proporções, notoriedade, foi bandeira da luta das mulheres contra a violência dos parceiros; e foi fundamental;, disse.
Uma das primeiras medidas da parceria da ONU Mulheres com a UnB será a formulação de uma pesquisa da universidade para mapear como a violência acontece dentro do câmpus. Para a coordenadora da ONU, Amanda Kamanchek, o resultado dessa amostragem será essencial para políticas pontuais na universidade. A previsão é de que o estudo seja divulgado no começo do próximo ano. ;As universidades precisam de apoio técnico, porque foi revelado que havia muita violência dentro desse universo;, observou Amanda.
Um dos casos recentes de violência registrados pela Coordenação de Direito das Mulheres da UnB é o de um homem acusado de assédio. Ele acabou expulso do Câmpus Darcy Ribeiro, na Asa Norte. Além disso, no primeiro domingo do mês, durante a participação nos Jogos InterCalouros, a bateria da Atlética Maquinada, grupo da Associação Atlética Acadêmica das Engenharias da UnB, foi acusada de desrespeito à mulher e apologia ao estupro. A Polícia Civil também investiga a denúncia. ;Muitas mulheres têm medo. Como denunciar um professor, por exemplo? Quem vai defender? Então, estamos aqui para fazer esse braço das alunas e articular com outros órgãos, como a Ouvidoria da UnB, até a formalização dessa violência;, explicou a coordenadora de Direito das Mulheres da UnB, Sílvia Bandim.
A coordenação fará, ainda, debates, relatórios, palestras e ações específicas para combate e prevenção ; o telefone para denúncias é o 3107-3436. Uma pesquisa do Instituto Avon/Data Popular realizada com 1.823 universitários de todo o país, em setembro e outubro do ano passado, mostrou que 46% das mulheres têm medo de sofrer violência no ambiente universitário. Além disso, muitas são humilhadas, xingadas ou ofendidas (52%); assediadas sexualmente (56%); ou até violentadas (28%).
; Colaborou Nathália Cardim
Para saber mais
Esforço mundial
O Dia Laranja pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, celebrado todo dia 25, ressalta o compromisso mundial de adoção da Agenda pelo Desenvolvimento Sustentável 2030. O documento reconhece que a igualdade de gênero, o empoderamento das mulheres e a eliminação da violência contra elas são centrais para o desenvolvimento sustentável. Esse dia marca o comprometimento de cerca de 193 líderes mundiais com 17 metas globais para os próximos 15 anos. A proposta da ONU Mulheres é que o governo e as instituições adotem a agenda sustentável, propondo ações concretas e financiamento adequado para o cumprimento dos objetivos. O de número 5 é ;Alcançar a igualdade de gênero por meio do fortalecimento das mulheres e meninas;. Além disso, outros 12 objetivos de desenvolvimento sustentável incorporam, transversalmente, metas de igualdade de gênero.
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