Muros, passagens subterrâneas, pontos de ônibus, paredes do Setor Comercial Sul, superquadra e estações de metrô. São lugares como esses que servem de tela para as intervenções urbanas que colorem as ruas de Brasília, espalhando poemas por aí. Cada vez mais frequente, a arte urbana em forma de poesia e também em frases curtas toma conta da cidade.
O objetivo é promover o diálogo com a arte e estimular a reflexão. Foi por causa disso que Cauê Maia, 31 anos, criou o Coletivo Transverso em 2011. Junto de duas amigas que conheceu no mestrado, Patrícia Del Rey e Patrícia Bagniewski, o poeta teve a ideia de montar um coletivo que levasse intervenções poéticas para o espaço público. ;Eu estava fazendo stencil há um ano e queria levar isso para rua. Aproveitamos e unimos a poesia ao projeto;, conta.
Segundo Cauê, a inspiração é a própria rua. Mas a escolha dos lugares que vão receber a intervenção muda de acordo com o tipo de mensagem que os artistas querem passar. ;A poesia vai influenciar a escolha do local e o tipo de poesia. De acordo com o lugar, até o jeito que vamos intervir muda;, explica. Hoje, além do stencil, o grupo usa outras técnicas para colorir a cidade, como o grafite, lambe-lambe e projeções.
E é esse justamente o plano de Mateus Santana, 24 anos, nascido em Ceilândia. Expandir as técnicas das intervenções feitas no projeto Poesia no Muro, criado no início do ano. A iniciativa pretende espalhar arte pela cidade. O poeta e redator publicitário criou um evento em uma página de redes sociais em que convidou amigos e conhecidos para participar da colagem de poemas impressos em cartazes de papel pela cidade.
A ideia deu certo e até estados, como São Paulo e Bahia, aderiram à ideia. Um dos próximos passos do projeto é expandir o projeto para outras cidades do DF. ;Acho a atitude de levar poesia às ruas muito boa. Deve haver uma conscientização para não depredar a cidade e sim compartilhar coisas boas e motivar o amor ao próximo;, conta. O Setor Comercial Sul é um dos lugares que Mateus compartilhou a arte que desenvolve.
Ao reparar o dia a dia, o redator publicitário percebeu que as pessoas costumam andar como autômatos. ;É sempre da casa para o trabalho, e do trabalho para casa. Não olhamos o que está ao nosso redor, e eu sentia falta disso;, comenta. O objetivo do jovem é mudar o dia de uma pessoa. ;Chamo as minhas intervenções de humanas, pois pretendo fazer o público sair do automático;, conclui.
No meio da quadra
Na SQN 214, a prefeitura teve a ideia de pendurar poesias nas árvores do local. Ao observar que a caminhada é um exercício constante dos moradores, achou que poderia tornar mais agradável a prática. ;A poesia tira a gente do cotidiano e sensibiliza quem passa. Ela tem o dom de abrir os nossos olhos;, declara Ricardo Faria, presidente do Conselho Comunitário da superquadra. As placas começaram a ser colocadas em 22 de abril, dia do Planeta Terra.
Moradora da quadra, Maria Glória Barbosa, 60 anos, sempre teve a literatura presente na vida. Formada em letras e dona de um sebo de livros, ela acredita que a iniciativa estimula as pessoas à leitura. ;Eu, por exemplo, gosto muito de poesia. Mas nem todo mundo tem tempo para ler, e essa é uma oportunidade;, acrescenta.
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