Cidades

Comerciantes e Agefis divergem sobre grades em bloco na 307 Sul

Empresários instalaram uma grade para evitar a ação de bandidos e moradores de rua na área. Mas a estrutura afeta diretamente a área tombada e configura invasão de espaço público, segundo a Agefis. Polícia Militar diz que faz rondas diárias

postado em 29/04/2016 06:00

O equipamento de proteção tem 5m de altura e 35m de extensão e destaca a realidade entre o respeito pelo tombamento e a violência


A falta de segurança nos comércios da Quadra 307 Sul está interferindo no debate sobre a preservação de Brasília como patrimônio cultural da humanidade. A instalação de uma grade de 5m de altura por 35m de extensão na comercial do Bloco C reacendeu a polêmica sobre as normas de tombamento do conjunto urbanístico de Brasília. A estrutura começou a ser colocada há dois meses pela imobiliária que administra o prédio, após os lojistas reclamarem dos constantes assaltos e invasões aos estabelecimentos. O equipamento cerca toda a área dos fundos das cinco lojas existentes. No entanto, o investimento de R$ 30 mil pode estar com os dias contados.


[SAIBAMAIS]Ontem, técnicos da Agência de Fiscalização (Agefis) estiveram no local e decidiram intimar o proprietário a retirar a grade no prazo de cinco dias corridos. O órgão promete derrubar a obra caso o dono não cumpra o determinado, além de aplicar multa e cobrar os custos da operação. No entendimento da agência, a construção não poderia ser feita porque o comércio se encontra no quadrilátero tombado pelo Instituto Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e configura invasão de área pública. Servidores do Iphan também foram até os estabelecimentos e tiraram fotos para analisar a situação. Em nota, a entidade informou que a colocação de grades fere as normas urbanísticas e os critérios de tombamento.

O professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de Brasília (UnB) Cláudio Villar de Queiroz defende que, no caso, o ideal seria o aumento do policiamento da região, e não o cercamento da área. Villar foi o primeiro superintendente do Iphan no Distrito Federal e criticou a construção. ;As pessoas não podem agir individualmente, do jeito que bem entenderem. Brasília tem legislação e é patrimônio cultural da humanidade. Não pode ser desrespeitada. Brasília não é a capital dos comerciantes, é a capital do Brasil;, opina.


De acordo com os lojistas, a medida foi tomada para coibir a ação dos criminosos. Eles alegam que a parte cercada era onde moradores de rua e traficantes se reuniam e que as ameaças eram constantes. Os empresários chegaram a contratar um funcionário a fim de limpar o terreno diariamente porque o lugar amanhecia cheio de fezes, urina e restos de comida.


Sylvio Menezes foi o primeiro a colocar as grades, depois que teve a loja assaltada pela terceira vez em dois anos. ;Quebraram as grades, os vidros e as fechaduras. O prejuízo foi de R$ 1,5 mil;, conta.
Após a iniciativa do empresário, a imobiliária decidiu expandir a estrutura e fechar toda a parte dos fundos do comércio. ;Se fere o tombamento, eu não sei. O que nós estamos tentando fazer aqui é resolver o problema da falta de segurança;, explica Marcelo Corrêa, técnico de edificações responsável pela obra. De acordo com o último relatório da Secretaria de Segurança e Paz Social, foram registrados 242 roubos em comércios no DF durante março deste ano. André Kallagri tem uma loja de noivas na quadra e já sofreu nove assaltos. ;Na última vez, eles fizeram xixi em todo o estoque porque não conseguiram levar. Eu perdi R$ 200 mil em roupa de seda pura;, reclama. Ele decidiu fechar a empresa e anunciou uma promoção na vitrine da loja para acabar com todo o estoque.

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