Ana Dubeux
postado em 01/05/2016 12:02
O título deste artigo não é uma afirmação retórica. Travestido de ciúmes, posse, excesso de zelo, paixão, o machismo serve para justificar atos abomináveis. Obviamente nada disso justifica, sequer explica. Ninguém xinga, trancafia, domina, ameaça e mata por amor ou por qualquer outro sentimento nobre. Todos os dias, a cada hora, cinco mulheres no mundo são sacrificadas por homens violentos. E eles fazem isso por uma razão só: enxergam as mulheres como um objeto ao seu dispor, que pode ser usado e descartado no momento que desejarem. Internalizaram uma cultura que não deixa rastro de dúvida: ou ela me serve ou não serve a mais ninguém; ou me pertence ou não pertence a mais ninguém. O mais grave: o mundo gira, o tempo passa e pouco muda. Eles continuam matando, e matam cada vez mais.
[SAIBAMAIS]É o que mostra a série de reportagens ;Quando não mata, fere; que o Correio publica a partir de hoje no caderno de Cidades. A violência contra a mulher é uma chaga social e cultural. Mata jovens, quase crianças; mata senhoras e moças; mata pobres e ricas; mata trabalhadoras e desempregadas; brancas e negras; mata mães na frente dos filhos; mata filhas para o desespero das mães. No fundo, mata famílias inteiras, deixando órfãos e desamparados muitos parentes, que passam a se sentir culpados. Sentem uma saudade que nunca passa; uma revolta que nunca cessa.
Essas mulheres precisam sair do ciclo de violência em que estão inseridas. Para isso, precisam de ajuda. A nossa intenção é ajudar a chamar a atenção para o problema, mostrando depoimentos de sobreviventes e de parentes. Também é discutir razões e soluções. As leis são suficientes? Por que não são integralmente cumpridas? O que mais pode ser feito? Temos visto em Brasília uma série de iniciativas para chamar a atenção sobre o tema. No âmbito da sociedade civil organizada e também da Justiça, ainda há muito a ser feito. Mas quando juízes começam a sair dos gabinetes, e a polícia a bater na porta das vítimas protegidas pela Lei Maria da Penha ; iniciativas que já existem no Distrito Federal ; sinto um fio de esperança. Você lerá sobre isso no Correio.