Cidades

ONG leva lâmpada de garrafa Pet para a comunidade de Sol Nascente

A organização pretende promover uma mudança comportamental a partir da própria comunidade. Por isso, todo o trabalho é feito em conjunto com os moradores

postado em 04/05/2016 18:12

A iluminação já está sendo implementada na região. Há modelos para residências e para as ruas

Um mundo onde toda criança possa ler um livro dentro de casa, onde as pessoas consigam andar na rua em segurança, no qual a luz não seja apenas para quem tem condições de pagar. Com essa visão, a Litro de Luz, uma organização não governamental presente em 21 países, chega ao Distrito Federal. A comunidade escolhida como pioneira na capital foi a do Sol Nascente, em Ceilândia. Com uma grande carência de iluminação pública, o local receberá 30 postes de luz, em data ainda a ser definida. Para iluminar as comunidades carentes, a ONG usa tecnologias alternativas e fontes de luz econômicas e ecologicamente sustentáveis.

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Criada por um brasiliense, a Litro de Luz pretende, muito mais que fornecer energia, promover uma mudança comportamental a partir da própria comunidade. Por isso, todo o trabalho é feito em conjunto com os moradores. ;Não estamos fazendo um favor para a população. A participação deles é tão relevante quanto a de um voluntário; comenta a coordenadora da ONG no DF, Larissa Sampaio.

Antes de instalar os postes ou as lâmpadas na comunidade, é feita uma análise da região escolhida. Durante dois meses, os voluntários visitam os moradores todas as semanas. Conhecem as dificuldades e conhecem as casas. Realizado o estudo do local, descobrem quais são as principais necessidades e decidem agir. Instruem os moradores para que eles entendam que todo o material instalado fará parte da localidade. ;Eles têm que tomar como seu, para que cuidem, e, assim, seja feita a mudança;, explica Larissa Borges, voluntária da organização. Também é estimulado o processo contínuo, no qual moradores são ensinados a reproduzir a tecnologia. Dessa maneira, passam a ser corresponsáveis pela manutenção e instalação dos protótipos. Os voluntários, por sua vez, são movidos pelo desejo de ajudar o próximo. ;Luz é uma coisa muito básica. A gente monta um poste, e é tão fácil para nós. Para eles, porém, muda tanta coisa. Essa troca é incrível; destaca Larissa Sampaio.

A primeira comunidade brasileira a ser beneficiada pelos postes da Litro de Luz foi a Beira-Mar, no Rio de Janeiro, há pouco menos de um ano. De lá para cá, muitos avanços ocorreram. A ONG ganhou parceiros, que patrocinam a fabricação dos protótipos, desenvolveu projetos em Santa Catarina e São Paulo, e está com outros em fase de estudos no DF, na Paraíba e na Amazônia. Recentemente, a organização ganhou o primeiro lugar do prêmio St. Andrews para o meio ambiente, batendo mais de 500 concorrentes. Com o valor de US$ 100 mil dólares, será responsável por iluminar quatro das 600 comunidades ribeirinhas sem fornecimento de energia elétrica na Amazônia ; Dominguinhos, Bararuá, Jacarezinho e São Jorge do Membeca.

O St. Andrews para o meio ambiente é uma iniciativa ambiental conjunta da Universidade de St. Andrews, na Escócia, e a empresa ConocoPhilips. A premiação vai para aqueles que propõem novas formas de preservar o meio ambiente e a biodiversidade. Dois projetos foram apresentados pela Litro de Luz: o dispositivo que consiste em uma garrafa de plástico cheia de água e água sanitária, montada através do telhado de uma casa para refratar a luz solar. O protótipo fornece a mesma quantidade de luz que uma lâmpada de 55 watts e não produz emissões de carbono. Tudo isso ao custo de US$ 2. O segundo projeto é justamente o poste a ser instalado no Sol Nascente ; tecnologia atualizada com lâmpadas LED, painéis solares e baterias para fornecer iluminação de baixo custo à noite.

Como tudo começou

Em 2014, o brasiliense Vitor Belota, presidente da Litro de Luz, estava em uma rotina cansativa. Morava sozinho. Saía de casa às 7h e só retornava à meia-noite. Exausto, decidiu que precisava de algo mais concreto na vida. Por meio da Aiesec, empresa voltada para o desenvolvimento do potencial de liderança de jovens por experiências voluntárias e profissionais, Vitor comprou uma passagem para uma nova vida. Destino? Quênia. Como professor voluntário, o jovem se deparou com situações como salas de aulas lotadas de crianças querendo aprender e nenhuma infraestrutura para isso. ;As salas eram muito escuras, mal dava para enxergar um palmo de mão à frente;, descreve.

Em Madhari, cidade em que vivia na África, fazia muito frio em julho e os professores fechavam as portas para proteger os alunos. ;O que já era escuro virava um completo breu; comenta. Em conversa com um amigo, também professor voluntário, se indignou com as condições impostas. Assim, tiveram a ideia de pesquisar como iluminar comunidades carentes com baixo custo. Após assistirem ao vídeo de um brasileiro ensinando a fazer a lâmpada diurna com uma garrafa pet, água, alvejante e uma telha metálica, tiveram o primeiro contato com o projeto Liter of light.

A primeira instalação das lâmpadas foi na escola em que lecionava. ;Eu vi que não era algo efêmero. Vários diretores começaram a visitar o colégio interessados em levar a tecnologia para as suas instituições;, comenta Vitor. Diante do sucesso, pediu autorização à escola e à Aiesec do cargo de professor para poder se dedicar ao projeto. Ao todo, foram mais de 12 escolas visitadas e 240 garrafas instaladas no Quênia.

Após oito semanas de experiência, Vitor voltou ao Brasil. ;Na África, eu tinha uma vida tão intensa, eu tinha no meu dia a dia o poder de ajudar as pessoas, de ver, no meu trabalho, que estava fazendo a diferença; desabafa. Aqui, reuniu-se com mais dois jovens brasileiros interessados no projeto e, assim, criaram o Litro de Luz Brasil.

;Às vezes, não percebemos o quão importante é a luz para a nossa vida, como, com ela, torna-se possível uma criança ler um livro durante a noite, os pais cozinharem uma refeição ou um médico tratar um doente.;

Postes de luz

A tecnologia usada para fabricar os postes de iluminação é simples: um cano de PVC, 4 LEDs, uma garrafa pet com alvejante e a bateria de uma moto para fornecer a energia. Cada protótipo custa, em média, de R$ 250 a R$ 300, valor obtido com a ajuda de fornecedores parceiros, e equivale a 60 watts.

Com informações de Carolina Gama.

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