Cidades

Empreendedorismo como opção de mercado de trabalho para transexuais

Mas especialista alerta: é preciso se identificar com o negócio e estudar bem o ramo que vai seguir

Flávia Maia
postado em 19/05/2016 08:25
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Em um mercado de trabalho tradicional e resistente à diversidade, abrir o próprio negócio pode ser a alternativa para a inserção laboral de transexuais e travestis. Se as empresas fecham as portas para o grupo, o empreendedorismo tende a ser um espaço de empregos e de desenvolvimento para o país. Relatórios internacionais, como os elaborados pelo americano Instituto Williams e o Banco Mundial sobre a inclusão LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis, Transexuais e Transgêneros), mostram que nações que ignoram a diversidade perdem dinheiro. A Índia, por exemplo, deixa de ganhar US$ 36 bilhões por ano. Embora os estudos tenham recorte em países emergentes, o Brasil não participa da pesquisa por falta de dados sobre a população trans.

[SAIBAMAIS]O estudo do Instituto Williams mostrou ainda que, para 92% das empresas analisadas, as políticas de diversidade se provaram boas para os negócios. Tanto que 53% dessas empresas lincaram políticas de proibição de discriminação de orientação sexual e de identidade de gênero e a decisão de estender os benefícios aos parceiros. ;O empreendedorismo é bom para todos os grupos sociais porque traz desenvolvimento para o país e gera renda para a pessoa. Se ele ainda consegue trazer a inserção social, melhor ainda;, define Antônio Valdir Oliveira, superintendente do Sebrae no DF.



Transexual, Nathália Vasconcellos, 25 anos, aguarda a oportunidade de abrir o próprio negócio: um salão de beleza. Para conseguir concretizar a vontade de ser empresária, faltam a sala comercial e o capital de giro. Ela já tem os equipamentos necessários, a placa da loja e a vontade de trabalhar. Para ela, o mercado de trabalho aceita poucos os trans, e os que admitem preferem colocá-los em serviços de ;bastidores;, ou seja, distantes do atendimento ao público. Ela conta que, quando trabalhava de cabeleireira como funcionária, tinha acesso aos clientes; entretanto, esse relacionamento nem sempre é fácil. Ela narra situações desagradáveis. ;Tem cliente que não aceita ser atendida por trans ou, então, fica trocando o gênero o tempo todo. Fora os colegas de trabalho, que fazem perguntas íntimas que não quero responder.;

Nathália Vasconcellos fez vários cursos com o intuito de abrir o próprio salão de beleza: sonho prestes de sair do papel

O plano de Nathália é abrir o salão de beleza em Samambaia o mais rápido possível. Para ter segurança e não fechar o empreendimento, ela cursou disciplinas de empreendedorismo na faculdade e pretende fazer mais cursos na área. ;O que eu tinha por dentro estava incompatível com a minha aparência. A transição é difícil porque, devido ao preconceito, as trans se escondem. Mas eu quero seguir em frente e fazer o salão dar certo.;

Identificação

Valdir conta que para abrir um negócio, é preciso identificar a vocação. ;É importante empreender com algo relacionado ao que gosta de fazer. Não é incomum o alinhamento do negócio com as opções de vida. O mercado LGBT tem muitas oportunidades.; Ele diz ainda que é preciso conhecer o mercado que está entrando e aprimorar as relações com clientes, concorrentes e fornecedores.

Em São Paulo, o talento como tatuador foi o caminho escolhido por Be Mosken, 18 anos, para não ter a qualidade do trabalho limitada por sua identidade de gênero. Com os amigos Lune Carvalho, 18, e Jesse Rother, 24, abriu o primeiro estúdio de tatuagem só com profissionais transgêneros não binários na chefia do negócio. Ao levantar a bandeira do respeito à identidade de gênero, o local se tornou um refúgio para a comunidade LGBT e para mulheres cisgênero que querem se tatuar.

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Desafios ao fim da discriminação
Na linha de ausência de informações sobre transexuais e travestis no Brasil, o Ministério Público do Trabalho não sabe quantificar os casos de discriminação contra essa população. Nas notificações, essas denúncias entram no mesmo grupo de denúncia contra negros, mulheres e homossexuais. No Distrito Federal, ainda se consegue fazer um recorte por gênero, padrão estético e orientação sexual (veja arte).

Em todo o país, foram instauradas 5.737 denúncias de discriminação em geral no mercado de trabalho. No DF, 92. Para a procuradora do trabalho Renata Coelho, há uma subnotificação dos casos, uma vez que os trans são grandes vítimas de assédio moral. ;Os ilícitos não estão registrados estatisticamente. Os dados do que essa população sofre de discriminação não chegam até nós, seja porque estão no mercado informal e na exploração sexual, seja porque o grupo não acredita em punição;.

Renata acredita que o Brasil ainda está nos primeiros passos de inclusão da diversidade. Para ela, o trabalho de agora será colhido nas próximas décadas. ;Ainda estamos no passo da conscientização e da educação da sociedade. É o começo;, afirma. ;Não é toda empresa que quer investir na política de diversidade, ainda mais neste momento que elas estão reduzindo custos e veem preço na inserção da diversidade.; A procuradora defende maior organização coletiva entre os trans para acelerar o processo de inclusão social, assim como fizeram outros grupos minoritários, como negros, mulheres e deficientes.

Quando não se enquadra

O transgênero é aquele ser humano que não se identifica com o gênero biológico. O não binário é o transgênero que não se enxerga nem como homem nem como mulher, por não se sentir enquadrado em nenhum desses opostos.

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