Renato Alves
postado em 21/05/2016 08:05
Em bando, com armas de grosso calibre e na companhia de cães ferozes. Tiros, correria, em meio ao cerrado e à plantações. Cachorros sangrando, em carne viva, após mordidas do alvo. Do tamanho de um ser humano, o animal selvagem, agonizando, cambaleia. Já morto, dilacerado pelas dentadas da matilha, é exibido como troféu pelos seus algozes. De tão grande, mal cabe na carroceria de uma caminhonete. As cenas são de uma caçada a javali em Alexânia (GO), a 100km de Brasília. E elas têm se repetido cada vez mais em outras cidades goianas do Entorno do Distrito Federal.
Fazendeiros e adeptos de caça abatem javalis-europeus para conter a superpopulação da espécie, reconhecida como nociva por autoridades brasileiras. Não pertencente à fauna nacional e também chamado de porco selvagem, o animal é extremamente agressivo. Ele tem presas enormes, pode medir 1,3m de comprimento, pesar até 250kg e destruir 60% da safra. Em quantidade desordenada, representa, ainda, uma ameaça às nascentes dos rios e à saúde humana. Mas nem por isso se pode matá-lo à vontade. É preciso autorização e seguir regras, como não maltratá-lo. A venda de sua carne e subprodutos é proibida.
Produtores rurais introduziram o javali-europeu no Brasil a partir do início do século passado, para a exploração comercial. A atividade não se desenvolveu, resultando na soltura e na reprodução descontrolada dos animais. Ele não tem predadores naturais no país. Desde então, a presença de grupos de javalis foi registrada em estados de todas as regiões: Acre, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
Em Goiás, a espécie se espalhou em maior número no ano passado, com animais vindos de matas dos estados limítrofes do Centro-Oeste. Desde então, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) emite, em média, 20 autorizações por mês para o abate de javalis-europeus em zonas rurais de municípios goianos. No mais recente levantamento, o órgão ambiental deu 88 licenças no primeiro trimestre de 2016. ;Para se ter uma ideia, é um aumento de 54% em relação ao último trimestre do ano passado;, ressalta Leo Caetano, analista do Ibama que cuida dos registros em Goiás. O órgão também é responsável pelo controle populacional do animal.
Vizinhas do DF, Alexânia, Cristalina e Formosa são três das cidades com a maior incidência do animal selvagem no estado. Um pouco mais distantes de Brasília, Silvânia e Vianópolis são outras com grandes ocorrências. ;O javali virou uma praga no estado. Temos ido a algumas cidades para dar palestras aos fazendeiros e explicar o que deve ser feito para o manejo;, afirma a bióloga Cristianne Borges Miguel, do Núcleo de Fauna do Ibama em Goiás.
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