Cidades

Solteirice é o estado civil mais declarado em regiões administrativas do DF

A única exceção, até o momento, é o Park Way, onde o número de casados é maior. A Estrutural lidera o ranking: 45,22% dos moradores com mais de 15 anos declararam não serem ligados a alguém

Adriana Bernardes
postado em 22/05/2016 08:07
Frejat cantando Segredos pode até dar voz ao desejo de uma parcela de solteiros Brasil afora. Mas nem todos estão à procura de um amor. Há quem prefira ser embalado por trilhas sonoras que exaltam a liberdade de levar a vida sem laços amorosos, como canta Gusttavo Lima em Quem tem sorte é sortero. No caso de Brasília, a solteirice é o estado civil mais declarado por moradores de 19 das 20 regiões administrativas alvo da Pesquisa Distrital por Amostragem de Domicílios (Pdad), da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan). A única exceção, até o momento, é o Park Way, onde o número de casados é maior. A Estrutural lidera o ranking: 45,22% dos moradores com mais de 15 anos declararam não serem ligados a alguém.

É assim com a professora aposentada Marina Recena Grassi, 60 anos, moradora da Candangolândia. A cidade é a terceira entre as pesquisadas com o maior número de solteiros. Dos 14,5 mil moradores com mais de 15 anos, 6.194 (42,72%) não têm relacionamento sério. Viúva há 20 anos, ela chegou a dividir a casa com uma pessoa, mas não por muito tempo. O motivo é simples. ;Relacionamento é para ser uma coisa boa. A vida a dois deixa a liberdade muito limitada. Hoje, viajo, pulo carnaval e não faço nada que não quero. Ajudo filhos, netos, vizinhos, trabalho e me divirto na hora que eu quero. O meu tempo é meu. Quando você põe tudo isso na balança, não sei se vale a pena trocar;, diz.


O casamento de Marina durou 15 anos. Nesse tempo, ela elenca várias conquistas: estudou, trabalhou e teve filhos. Quando o relacionamento entrou em crise, ela e o marido acharam melhor cada um seguir o seu caminho. ;Eu quero, do meu lado, um companheiro para dividir as coisas boas. Quero dançar, viajar e me divertir. Se é para trazer problema, não me interessa;, avisa Marina, que se diz uma pessoa romântica.

Dinheiro
O resultado da pesquisa é parcial. Até agora, a Estrutural lidera em solteirice. Dos 29.211 moradores, 13.210 (45,22%) não mantêm vínculo afetivo. Mas quando os técnicos concluírem o levantamento em regiões como o Sudoeste, Plano Piloto e lagos Sul e Norte, a realidade deve se inverter. Pelo menos foi o que ocorreu em 2013. Naquele ano, os números revelaram que, no Distrito Federal, 40% da população não tinha vínculo amoroso. A média brasileira é de 49%.

A gerente de Pesquisas Socioeconômicas da Codeplan, Iraci Peixoto, explica que o levantamento não aprofunda os motivos. Mas fica claro que, nas regiões de menor poder aquisitivo, a quantidade de solteiros é maior e apenas 3,9% moram sozinhos. Assim, a renda individual dos não casados era de R$ 890, enquanto a dos não solteiros ; casados no civil, no religioso ou em união estável ; subia para R$ 2,4 mil. ;Geralmente, os casados têm idade mais avançada, uma experiência maior de trabalho e, consequentemente, um rendimento maior;, explica Iraci.

Entre os solteiros entrevistados pela reportagem, prevalece o apego à liberdade. Vivem as delícias do ir e vir sem dar satisfação a ninguém. Mas, mesmo entre eles, há momentos em que o companheirismo de uma relação estável faz falta. O assessor Guilherme Martins, 24 anos, está no grupo. ;A minha geração se vê muito livre e tem até medo de se envolver e perder essa liberdade. A vantagem é poder ir a qualquer lugar, a qualquer momento, sem precisar avisar ninguém. A desvantagem é o lado emocional. Chegar em casa e não ter ninguém para contar algo que aconteceu e você não quer dividir com amigos ou com a família;, avalia Guilherme.

Em relação ao gênero, a pesquisa de 2013 revelou que a diferença é equilibrada. Naquele ano, dos solteiros, 50,6% eram mulheres e 49,4%, homens. Aos 45 anos, Cláudio Pinheiro diz ser o ;solteirão;. Pratica esportes, frequenta academia e adora shows de rock. Na balada, Vapor barato, do Rappa, é uma das preferidas. Ele mora no Gama, a sexta cidade com o maior número de solteiros em relação aos casados ; dos 120.514 habitantes, 50.944 (42,27%) estão ;sozinhos;. Cláudio não sabia da pesquisa, mas confirma que a cidade é terreno fértil para quem quer encontrar alguém só para curtir ou, quem sabe, algo mais sério. ;Tem muita gente só na balada ou mesmo no meu ciclo de amigos;, diz. O namoro mais longo durou seis anos e terminou com o desgaste da relação. Desde então, já se passou uma década sem que ele engatasse uma história duradoura. Nesse período, se dedica ao que mais gosta: ciclismo, academia e shows. ;Tem sido uma fase boa. Se o cara é responsável, goza dessa liberdade por muito tempo, e ela é muito relaxante. Mas esse negócio de ficar solteiro o resto da vida, no fundo, no fundo, não existe: o cara quer ter alguém. Já está mais que na hora de eu arrumar alguém;, afirma.

Sem grude
Analista de sistemas Marcos Thiago Teodoro Gondim, 26, está solteiro há um ano e não pretende se amarrar a alguém por enquanto. Na balada sertaneja, o hino é Solteiro sim, de Humberto e Ronaldo. Mesmo sem querer vínculo amoroso, Marcos faz mimos reservados aos românticos incorrigíveis. ;Quando estou com alguém, ainda que seja uma ficante, gosto de levar em casa, fazer um jantar. E, como moro sozinho, algumas confundem, achando que podem dormir, passar o fim de semana. Não gosto disso;, conta.

Mas há exceções. A estudante Carla Ingrid Oliveira Miranda, 20, não vive um relacionamento sério há quase um ano. ;Estou livre, leve e solta. Não quero que me ligue no dia seguinte e também não quero ligar para ninguém. Se o cara liga e foi legal, a gente até marca um segundo encontro;, diz. O que a atrai na solteirice é o mesmo que encanta os homens: não dar satisfação a ninguém. Após três anos de namoro, a analista de recursos humanos Yasmine Feitosa Abrão, 23, não quer nada sério.
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