Nathália Cardim
postado em 26/05/2016 08:12
[VIDEO1]Não há um dia em que a auxiliar de cozinha Fátima Carvalho, 46 anos, consiga dormir tranquila, mas ela também não perde a esperança de alguma notícia da filha, Yanara Gomes, 15. A garota foi vista pela última vez em 20 de fevereiro. Ela saiu de casa em São Sebastião, antes de o Sol nascer, sem dar detalhes para onde iria. Yanara apenas disse que retornaria à tarde, o que não ocorreu. De lá para cá, as idas à delegacia são constantes e cada vez que o telefone toca surge o brilho no olhar de Fátima. O caso se une ao sumiço de 28 crianças e adolescentes, com até 18 anos, segundo o Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos, elaborado pela Secretaria de Direitos Humanos ; vinculada ao Ministério da Justiça. A Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social (SSP) contabiliza nove casos diários de desaparecimento na capital do país.
O Distrito Federal aparece em quarto lugar quando a questão é o desaparecimento. O número mais recente do levantamento realizado pela área de estatística da Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social (SSP-DF), com base nos dados da Polícia Civil do DF, revela que, em 2015, 3.250 pessoas estavam sumidas ; uma média mensal de 270 desaparecimentos, ou nove casos diários. Até 29 de janeiro deste ano, data de atualização do estudo, permaneciam desaparecidas 914 pessoas. Entretanto, a Polícia Civil explica que existem situações em que familiares encontram os parentes e não comunicam o fato às autoridades.
Do total de ocorrências, 1.632 são do sexo feminino e 1.618 do masculino. As mulheres apresentaram maior número na faixa etária entre 13 e 17 anos, com 77% dos casos. Até 12 anos de idade, o registro é de 60%. Segundo o estudo da pasta, entre as principais motivações para o desaparecimento de crianças e adolescentes estão a fuga por conflitos familiares, violência doméstica, perda por descuido ou desorientação. Muitos alegam que passaram alguns dias na casa de namorado ou amigo. As causas para o sumiço de adultos são o consumo de entorpecentes ou também a estadia em casas de namorados ou parentes, sem o aviso prévio aos familiares.
Cadastro
Algo que prejudica a localização é a falta de um cadastro único de vítimas na capital. O governo não possui nenhum tipo de ferramenta de busca voltada para o problema. De acordo com o Ministério da Justiça, a Secretaria Nacional de Segurança Pública está integrando os boletins de ocorrência nas polícias civis dos estados e do DF por meio da Rede de Integração Nacional de Informações de Segurança Pública, Justiça e Fiscalização e do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas (Sinesp). ;Quando for concluída, efetivamente, a integração de todos os registros, nós teremos um levantamento mais atualizado da quantidade de desaparecidos no país, assim como de casos solucionados;, informou o órgão.
No dia do desaparecimento, Yanara saiu de casa apenas com uma mochila e a carteira de identidade. Dias antes, a adolescente esqueceu o celular na casa de uma amiga, por isso, o contato ficou impossível. A mãe, Fátima, chegou a pensar que ela poderia ter ido para casa de uma tia, mas ninguém sabia da jovem. Desde então, o sentimento é de angústia. ;Não tem um dia que não penso nela. É terrível não ter notícias. É muita tristeza não saber onde minha filha se encontra, sem está passando bem ou não;, relata. Segundo a auxiliar de cozinha, a filha não tinha nenhuma desavença familiar. ;Ela estava sempre feliz. Nunca me deu trabalho;. Quem tiver alguma informação, pode ligar para 8337-8271 ou 3021-4493.
Investigação imediata
A Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) é responsável por partes das investigações de desaparecimentos de crianças e adolescentes. O chefe da unidade, Wislley Salomão, detalhou que a maioria dos casos está ligada a algum conflito familiar. ;Seja pelo fato de ter iniciado um namoro e os pais não aceitaram, seja por transtornos;, disse. Ele ressalta que é importante desfazer a cultura que sejam necessárias 24 horas para informar sumiço. ;As investigações devem ser realizadas imediatamente após a notificação aos órgãos competentes. Não precisa esperar mais todo esse tempo.; Os registros de desaparecimento podem ser efetuados em qualquer delegacia.
Em atenção ao Dia Internacional da Criança Desaparecida, comemorado ontem e instituído no DF pela Lei Distrital n; 4.335, a Secretaria de Estado do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulher, Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh), por meio da Diretoria de Serviços Especializados às Famílias e Indivíduos (Disefi), realizará uma semana de mobilização para marcar a data. De acordo com a coordenadora da Disefi, Amanda Campina, ;a intenção é utilizar as redes sociais e disponibilizar informações e procedimentos de segurança que podem evitar o desaparecimento de crianças e adolescentes;, explicou. ;Estão sendo divulgadas, a partir de hoje (ontem), 12 dicas nas redes, a partir da parceria com o International Centre for Missing e Exploited Children (Icmec ; Centro Internacional de Crianças Desaparecidas e Exploradas);.
Tema explorado pelo cinema
Centenas de filmes tratam do tema de desaparecimento de pessoas e as consequências para as famílias. Um dos mais famosos é Sobre Meninos e Lobos (Mystic River, 2003), com direção de Clint Eastwood. A obra fala sobre o sequestro de uma criança, que passa quatro dias sofrendo abusos de um policial, e o desaparecimento de uma jovem anos depois que traz todo o trauma de volta. Mais recente, Os suspeitos (Prisoners, 2013) é um longa policial do sumiço de duas crianças em uma pequena cidade dos Estados Unidos, com atuações primorosas de Hugh Jackman e Jake Gyllenhaal. No Brasil, o assunto apareceu em A busca (2012), no qual Theo (Wagner Moura) não espera as autoridades para ir atrás do filho, Pedro (Brás Antunes).
Links sobre o assunto
www.desaparecidosdobrasil.org
www.desaparecidos.gov.br
www.pastoraldacrianca.org.br
www.icmec.org