Luiz Calcagno
postado em 28/05/2016 08:02
Um coletivo de cerca de 50 lésbicas e bissexuais que se inscreveu para curtir show de samba e sertanejo reclama de ter sido barrado na porta de uma boate do Setor Comercial Norte, na última quinta-feira. Durante a divulgação, os promotores do evento anunciaram que mulheres inscritas como VIPs não pagariam entrada e teriam bebida liberada a partir das 22h. Os homens gastariam pela bebida e para entrar.
Integrantes do Coletivo Namoradas consideraram a iniciativa do evento abusiva e decidiram fazer uma intervenção: cadastraram-se para ir ao local com o intuito de irem embora à meia-noite. Mesmo tendo cumprido as exigências para participarem da festa com os ;privilégios;, elas foram barradas na entrada, o que gerou bate-boca e discussões nas redes sociais.
[SAIBAMAIS]As porta-vozes da ação, Bárbara Martino, Danielle Miranda e Manuela Oliveira, explicaram que, para o grupo, a estratégia de liberar bebidas para mulheres as deixa vulneráveis. ;Quando soubemos da promoção, ficamos revoltadas. Elas (as mulheres), em tese, estariam mais fáceis. Os homens pagam valor alto, mas têm esse chamativo. Eles alegam que isso é privilégio, mas não é. É objetificação;, detalha o trio, que organizou o ato nas redes sociais.
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Uma gerente do estabelecimento procurou as representantes do coletivo para pedir que desistissem da intervenção. Quando cerca de 50 pessoas chegaram ao local, disseram que elas não estavam com o nome na lista e separaram duas filas, uma para o grupo e outra para as demais clientes. Para as porta-vozes, isso ocorreu por elas serem homossexuais. ;Nós passamos 52 nomes, mas nenhum estava na lista. Colocamos umas meninas da nossa fila na outra, e elas entraram. Aí, disseram-nos que poderíamos entrar, mas teríamos de pagar R$ 60. Foi tudo filmado. Somente as meninas lésbicas não usufruíram do evento;, reclamam.
O grupo se reuniu às 17h de ontem para decidir se recorreria à Justiça ou se registraria ocorrência. Por telefone, a gerente que conversou com as mulheres disse que denunciaria o caso na 5; DP (Área Central). Segundo a funcionária, que não quis se identificar, a promoção ocorre há 5 anos e vale só para mulheres maiores de 18 anos. ;Elas disseram que estavam com o nome na lista e entraram na fila. As meninas cadastradas entraram e beberam. Para as que não estavam cobramos entrada de R$ 40, mas elas não aceitaram. Ninguém foi barrado. Elas tinham o direito de ir e vir, mas teriam de pagar a entrada. Temos clientes e funcionários homossexuais. Não somos uma casa homofóbica e, em nenhum momento, eu fui homofóbica;, afirmou. ;Elas queriam prejudicar um estabelecimento que fez uma promoção sem maldade. Eu estava trabalhando honestamente, fazendo o meu trabalho, e elas me ofenderam, me humilharam.;
Na sexta-feira, muita gente procurou a página da boate para prestar apoio ao coletivo, mas o moderador apagou os comentários. Ainda assim, muitos se queixaram da casa em espaço para avaliações que não pode ser deletado. Uma internauta disse para mulheres evitarem o local que ;nos usa como iscas para atrair homens. Que veem as mulheres como meros objetos e um atalho para o lucro;. Pelo Twitter, a cantora Daniela Mercury também se manifestou: ;Os jovens inteligentes de Basília devem boicotar esse lugar;.
O promotor do Núcleo de Enfrentamento à Discriminação do Ministério Público do DF e Territórios, Thiago Pierobom, associa o episódio a situações nas quais as representações de homem e mulher se diferenciam na sociedade. ;Quando vamos a um rodízio, as mulheres, mesmo comendo menos do que os homens, de uma forma geral, não pagam menos que eles. Nas casas noturnas, a estratégia pensa nas mulheres como um atrativo para o público masculino. Não é prejuízo que paguem menos;, afirma.