Denúncias de irregularidades no programa habitacional do DF levaram a Polícia Federal a deflagrar ontem a Operação Clã, que teve como um dos alvos o ex-secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação Geraldo Magela. A corporação cumpriu 13 mandados de condução coercitiva e realizou 14 ações de busca e apreensão. Os policiais investigam um esquema que envolve cooperativas e construtoras. Elas teriam extorquido pessoas na fila da casa própria, cobrando valores de até R$ 15 mil para incluí-las na Etapa 4 do Riacho Fundo 2.
O ex-secretário adjunto de Habitação Rafael de Oliveira também foi levado à PF para prestar depoimento. O nome da operação é uma referência à suposta participação de familiares de Rafael no esquema. Segundo os investigadores, ele tinha parentes em construtoras e em associações envolvidas na construção de imóveis populares do programa habitacional do GDF. Como servidor público, Rafael teria agido em benefício dos familiares, de acordo com a apuração da PF.
Magela foi alvo de mandado de condução coercitiva e de operação de busca e apreensão. Na casa dele, os policiais apreenderam um iPad, o computador da família, além do celular do ex-deputado federal. Quando estava à frente da Secretaria de Habitação, Magela assinou um termo aditivo ao contrato firmado com cooperativas para construção de moradias populares. Para o delegado da PF Guilherme Siqueira, o documento assinado por ele deixou a fiscalização frouxa e deu chance às entidades para cometerem fraudes. ;O terceiro termo aditivo foi assinado pelo então secretário em 2013, e a Controladoria-Geral da União (CGU) achou o documento suspeito, porque dava excessivo poder às associações.; Segundo ele, não há indício de pagamento de propina a agentes públicos.
A Etapa 4 do Riacho Fundo 2 é visada pelas cooperativas há mais de uma década. Depois de muita pressão do movimento social, a União, que era dona da área, cedeu o terreno de mais de 1 milhão de metros quadrados para a construção de empreendimentos habitacionais. Em 2006, a Secretaria de Patrimônio da União assinou o contrato de concessão do direito real de uso do terreno com a Associação Pró-Morar do Movimento Vida de Samambaia (AMMVS), que representava outras 207 cooperativas. A área tem capacidade para abrigar quase 5 mil famílias. O GDF fazia parte do acordo e tinha a atribuição de verificar os cadastros dos beneficiados a fim de checar se todos eram inscritos na lista única da Companhia de Desenvolvimento Habitacional do DF (Codhab).
Em auditoria de 2014, a CGU identificou problemas no contrato entre a SPU e a entidade. O levantamento questionou a forma de cessão da área à AMMVS: ;É possível adotar procedimentos que garantam maior impessoalidade na escolha das entidades, em contraponto ao verificado nos autos, nos quais não há qualquer indício de oportunidade de manifestação de interesse por parte de outras entidades, assim como não há, também, qualquer comprovação de que a citada entidade representasse todas as associações e cooperativas habitacionais do DF;. O trabalho ajudou a embasar a apuração da PF.
Em 2013, o Correio mostrou as suspeitas de que Rafael de Oliveira teria se aproveitado do cargo em benefício próprio. Publicou documentos revelando que ele tem vários familiares ligados a movimentos sociais de Brasília, principalmente a AMMVS. Até assumir o cargo, Rafael era secretário executivo da cooperativa. O pai dele, Carlos Roberto de Oliveira, e a irmã, Daniela Kely de Oliveira, também atuaram na entidade. Segundo o Tribunal de Contas, os familiares teriam comandado a associação quando Rafael era da Secretaria de Habitação. Ontem, o Correio não conseguiu localizá-lo. Em 2013, quando saíram as denúncias envolvendo os parentes, ele negou irregularidades.
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