Nathália Cardim
postado em 03/06/2016 06:05
A operação para a retirada de pelo menos 12 pessoas que se recusam a deixar o esqueleto do Torre Palace Hotel, no Eixo Monumental, entra no terceiro dia hoje, causando mais transtornos no coração da capital do país. O plano das forças de segurança era retirá-las na quarta-feira, quando o trabalho de higienização do prédio em escombros se transformou em uma ação de reintegração de posse, com 550 agentes do governo mobilizados em dois dias. A situação segue em um impasse: após diversas reuniões com a Polícia Militar e com o GDF, integrantes do Movimento Resistência Popular (MRP) não deram sinal de que pretendem deixar a construção. O governador Rodrigo Rollemberg (PSB) reuniu-se com autoridades para ver quais serão as próximas medidas a serem tomadas.
;A ordem é negociar exaustivamente até que uma solução viável para ambas as partes seja alcançada. O negociador da PM está tentando convencer essas pessoas a desocuparem o prédio da melhor maneira. Sem agressão;, disse o coronel Antônio Carlos Freitas, chefe da Comunicação da PM. A ação do GDF tem como base a decisão judicial que autoriza a desocupação do prédio, de acordo com relatório da Defesa Civil que condenou a estrutura do hotel e a interdição recomendada pela Agefis em 19 de abril.
Os sem-teto são liderados por Edson Francisco da Silva, preso no ano passado acusado de extorquir os integrantes do grupo. Há dois dias, ele está com 11 pessoas no local, entre elas, duas crianças. Conselheiros tutelares acompanharam as negociações para dar apoio aos filhos dos sem-teto, assim como a Vara da Infância e da Juventude. Não há água ou energia elétrica, mas os manifestantes garantem que há grande quantidade de comida. Ontem pela manhã, as negociações não avançaram. Por isso, foi necessário acionar o GDF. O Executivo, contudo, declarou que as famílias não poderiam ser imediatamente inseridas em programas sociais, pois algumas tinham imóvel e outras haviam sido beneficiadas com lotes públicos.
Moradia
O coordenador de Proteção Social e Especial da Secretaria de Estado do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, Jean Marcel Pereira Alves, explicou que assistentes sociais estão no local desde quarta-feira para tentar incluir essas famílias em programas sociais de moradia. Enquanto o cadastro não for concluído, os ocupantes do hotel podem ser hospedados temporariamente em oito unidades de acolhimento espalhadas em diversas regiões administrativas.
Enquanto isso, o Eixo Monumental permanece bloqueado em partes. O perímetro é de 300m e abrange a parte inicial do Setor Hoteleiro Norte. De acordo com a Secretaria de Segurança, os motoristas não podem passar pela região porque correm risco de serem atingidos pelos objetos arremessados pelos integrantes do MRP. Ontem, eles jogaram pedras, pedaços de pau, tijolos, vidros e até um ar-condicionado antigo. A pasta adiantou que a Via N1 continuará fechada hoje.
Vários pontos de engarrafamentos atrapalharam motoristas e usuários de transporte público no centro de Brasília, principalmente na altura da Rodoviária do Plano Piloto. À noite, na volta para casa, o trânsito piorou. O taxista Francisco Cunha Santiago, 39 anos, demorou 37 minutos para levar um passageiro da Esplanada até o Setor Hoteleiro Norte. ;Tive que parar e sair do carro de tanta dor nas pernas. É o tipo de coisa que atrapalha muito quem fica nessa região. Afeta quem trabalha, quem usa o transporte. Uma cidade toda sofre por conta de meia dúzia de pessoas;, reclamou.
Efetivo
Durante o segundo dia de operação, o efetivo de policias e bombeiros foi menor que o do dia anterior: 250 homens. Ainda assim, um número considerado alto para uma operação tida como secundária. No primeiro dia, 300 homens ficaram a postos por mais de 12 horas. Na quarta-feira e ontem, um grupo de integrantes do MRP fora do hotel dava apoio aos companheiros dentro do edifício. Gritavam palavras de ordem e encorajavam os sem-teto a continuar ocupando o Torre Palace.
Uma das líderes do MRP, Doriana Nunes discursa que a polícia insiste em minimizar o caso. Segundo a PM, restam até 12 pessoas no interior do hotel. ;Temos muito mais integrantes lá dentro, inclusive, crianças de colo. Uma delas tem 3 meses. O governo taxa a gente como vagabundo. A proposta é levar a gente para um albergue, e nós não vamos. A nossa intenção é ter uma moradia. Não temos para onde ir e garantimos que quietos não vamos ficar;, afirmou Doriana. O movimento divulgou uma nota em que diz estar ;sitiado por forças policiais no coração de Brasília;, e justificou a ocupação informando que o prédio tem milhões de reais de dívidas em impostos.
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