Por meio das vestimentas, do estilo de vida e da alegria, ciganos mantêm viva a tradição de sua gente no Distrito Federal. Em Sobradinho, 70 deles, divididos em 15 famílias, convivem em um terreno do tamanho de três campos de futebol ; o primeiro cedido para a nação cigana pelo Governo Federal em todo o país. Mas, além de lidar com a falta de infraestrutura, a comunidade sofre com o preconceito histórico.
De acordo com um estudo divulgado esta semana pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), 113 ciganos distribuídos em 38 famílias residem na capital do país. A Associação Nacional das Etnias Ciganas do Brasil (Anec) estima que 4 mil moram em todo o DF e Entorno. Ainda segundo a Codeplan, no DF, os ciganos são, em sua maioria, pretos e pardos, sendo 81% jovens ; 80% com até 34 anos e 45% com até 15 anos. A maioria (52%) trabalha por conta própria.
Os ciganos são identificados em três etnias: Rom, Sinti e Calon. Todas ligadas à origem de migração. Os ciganos do acampamento em Sobradinho são da etnia Calon. Um deles, Luan Pessoa de Souza, 23 anos, lamenta o fato de ainda ser restrito o uso das vestimentas do povo. ;Sofremos muito preconceito pelas ruas. É só sair em algum local com a roupa que nos olham de modo diferente. O meu anseio é que as pessoas parem de nos julgar. Cigano não é um povo que rouba, é um povo trabalhador, que luta dia a dia;, ressalta.
O preconceito é um dos pontos levantados pelo estudo da Codeplan. A pesquisa identificou que os ciganos lutam para que sejam reconhecidos pela sociedade. ;A população tem uma visão geral de que cigano apenas lê a mão e tem vestimentas diferentes. As pessoas não procuram conhecer a cultura do outro e tem apenas uma visão estereotipada. Vimos que a maior demanda deles é justamente desfazer esse preconceito;, comenta Thiago Mendes Rosa, técnico da Codeplan e um dos autores da pesquisa.
Conforme a pesquisa, a principal atividade econômica desenvolvida pelos ciganos é o comércio, que surgiu como uma saída natural de sobrevivência da comunidade cigana, o que pode ser ambulante formal, informal ou baseado em trocas. Rosalina da Rocha, 29 anos, é uma das mulheres que trabalham revendendo panos de prato nas ruas do DF. Ela também reclama do preconceito. ;Uma vez saí com uma saia colorida na rua e fui ofendida por um homem. Fiquei um bom tempo sem sair de casa em virtude disso. O meu desejo é que nos vejam olhos normais, e não com preconceito;.
Wanderley da Rocha, presidente da Anec, considera que, apesar de muito tempo no Brasil, o povo cigano é alvo constante de preconceito. ;Queremos apenas manter a nossa tradição. O povo cigano se instalou no Brasil ainda em 1574 e, desde então, vem sofrendo preconceito. Isso dificulta o acesso aos nossos direitos, como por exemplo, circula livremente com nossas vestimentas sem sermos julgados.;
Falta tudo
No acampamento da etnia Calon, em Sobradinho, as famílias levam uma vida simples. São 15 tendas espalhadas pelo terreno. E não é por viverem em barracas que o povo não evoluiu com o mundo. Elas (tendas) têm geladeira, fogão, televisão, entre outros aparelhos eletrônicos. O problema é que a energia é distribuída de um único poste por meio de gambiarras. O grupo também não tem saneamento básico.
As estatísticas do estudo da Codeplan confirmam a precariedade. Dos ciganos entrevistados pelos pesquisadores, apenas 2,63% afirmam ter calçadas onde moram. Só 21% têm banheiro e 24%, rede de distribuição de água. Ainda, somente 24% contam com serviço de coleta de lixo e 13%, esgotamento sanitário adequado (rede geral ou fossa séptica). E apenas 24% das casas contam com iluminação elétrica de qualquer tipo.
Wanderley da Rocha diz que, apesar da conquista do terreno, são necessárias políticas públicas mais avançadas para o povo cigano. ;Esse terreno é um motivo de orgulho, mas, desde quando nos instalamos por aqui, esperamos a chegada de uma melhor estrutura. Queremos ter direito a esses serviços, como têm toda a população;, destaca.
O subsecretário de Igualdade Racial, da Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, Victor Nunes, afirma que o órgão vem dialogando para elaborar políticas públicas para a comunidade cigana. ;É um plano elaborado por 12 órgãos, que vai ser fundamental para garantir os direitos do cigano e a melhoria da infraestrutura do local. No momento, solicitamos à Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para instalar poços artesianos, pias e banheiros secos para atender a comunidade. O esgoto seria ligado por uma fossa, uma vez que a área ainda não pode sofrer intervenções maiores, como a instalação de uma rede de esgoto, devido à questão de documentação e por ser localizada em uma área rural;, explica.
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