Adriana Bernardes
postado em 05/06/2016 08:00
A alta dos preços provocada pela crise econômica trouxe de volta uma prática comum nos anos 1980: as compras coletivas. É provável que a geração dos 30 anos ou menos tenha redescoberto a iniciativa por acaso, na tentativa de conseguir mais descontos. Mas, certamente, a geração de 50 anos ou mais se lembra bem dos malabarismos para amenizar os efeitos de uma inflação de até 200% ao ano, como ocorreu entre 1983 e 1985. Um jeito de perder menos o poder de compra era reunir os amigos e comprar no atacado, assim que o salário caía na conta.
Passadas três décadas, o país enfrenta nova dificuldade econômica. O ano de 2015 fechou com inflação acumulada de 10,67%, índice bem menor do que o auge da chamada ;década perdida;, mas faz diferença no bolso do cidadão que viveu um longo período de índices com apenas um dígito. Quando a filha Valentina nasceu, há três meses, a professora Bárbara Rosa Teixeira, 31 anos, se interessou em comprar um sling, faixa de tecido com a qual a mãe amarra o bebê ao próprio corpo. Para baratear ao custo e o frete, ela mobilizou 20 mulheres, que fizeram uma compra coletiva. ;Conseguimos um desconto de 20% em cada peça, e a entrega ficou em cerca de R$ 5 para cada uma;, comemora.
Esta foi a primeira vez que Bárbara organizou algo assim. Mas tem experiência nesse tipo de comércio. ;Quando me casei, eu fiz parte de um grupo de noivas e comprávamos tudo coletivamente. Vale muito a pena;, garante. Organizar a aquisição dos produtos não é fácil. Além da responsabilidade de não deixar ninguém de fora e pedir o produto correto, tem a entrega. ;Se for um produto caro, é perigoso deixar isso em casa;, cita.
Tendência
O professor do Departamento de Administração e Finanças da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Silva diz que a prática é uma tendência diretamente ligada à crise econômica. ;As dificuldades têm levado as pessoas a buscar formas de baixar o custo e fazer disso um meio de sobrevivência. Na distribuição de hortifrútis da Ceasa, 20% das compras são coletivas. Nos hipermercados, o percentual chega a 10%;, cita.
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