Cidades

Com tumor derivado do xeroderma, paciente amarga longa espera por prótese

Homem usa a mesma máscara, que substitui nariz, olho e orelha tomados pelos tumores causados pelo xeroderma, há 15 anos. Deveria ter trocado a cada 24 meses. Ele é o retrato do descaso do poder público com os pacientes de Araras

Renato Alves
postado em 18/06/2016 08:06
O vilarejo à noite: horário em que os moradores doentes podem sair de casa, já que a exposição ao sol só intensifica o mal

Faina (GO) - Único funcionário da cooperativa leiteira de Araras, Deide Freire não consegue sequer trocar a prótese colocada no rosto há 15 anos para substituir o nariz, o olho e a orelha perdidos na retirada do tumor derivado do xeroderma pigmentoso (XP). O médico falou para ele repor a máscara a cada dois anos, mas o paciente não tem dinheiro, e o hospital público de Goiás que o atende se recusa a fornecê-la. Na clínica particular, ela custa R$ 10 mil. Outros dois moradores do vilarejo enfrentam o mesmo problema. Um nunca teve prótese. No lugar dela, usa esparadrapo.

[SAIBAMAIS]Deide e os dois vizinhos são a personificação do descaso do Estado com os pacientes de XP. Ele ainda pode se considerar um homem de sorte. É o único doente em Araras que passa a maior parte do dia sob a sombra. Ele engrossa a renda recebendo e anotando o leite levado por produtores rurais da região à sede da cooperativa, na vila. Mas a soma do que ganha do Estado com o bico na cooperativa é insuficiente para o tratamento. Mesmo trabalhando na sombra, não está livre dos danos provocados pelo XP. Hoje, aos 47 anos, está com dificuldade na fala e na respiração. Por isso, recentemente, teve de se licenciar do trabalho por tempo indeterminado.

Deide é um dos seis filhos de um casal de primos. Da relação de Elizeu e Edi Freire, nasceram outros dois que tiveram o XP diagnosticado na infância. O caçula, Vilson Elizeu, morreu com 30 anos, consumido pelo tumor. Desesperado, Dercimar decidiu sair do país em busca de melhores condições. Escolheu uma região dos Estados Unidos com temperaturas mais amenas ao longo do ano e neve no inverno. Lá, arrumou um trabalho braçal, porém menos cansativo que o da roça e que não o expõe ao sol. Diferentemente do irmão, Deide se casou e formou família em Araras. Tem duas filhas. E é por causa delas, afirma, que continua a lutar contra a doença.



Diagnóstico tardio
Deide nasceu em Jeroaguara, outro distrito de Faina, em 16 de setembro de 1969, na mesma fazenda onde passou a infância. Os pais notaram as primeiras sardas no rosto do menino quando ele tinha 7 anos. Aos 10, surgiu a primeira lesão, no nariz. Só aí Edi e Elizeu demonstraram preocupação e levaram o filho a um médico, na Cidade de Goiás. O profissional que examinou o garoto os aconselhou a procurar um médico em Goiânia. Logo o médico marcou uma cirurgia para a remoção do tumor. Mas, pouco mais de um mês depois, surgiram outras lesões no rosto de Deide.

Com os anos, o problema se agravou. Em agosto de 1985, o médico encaminhou o paciente a uma equipe de especialistas do Hospital Araújo Jorge, em Goiânia. Só então, oito anos após o surgimento dos primeiros sintomas, Deide teve o diagnóstico definitivo: ele tinha xeroderma pigmentoso e não podia mais ficar exposto ao sol.

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