Cidades

Exposição fotográfica busca empatia com a situação de mulheres refugiadas

Ideia surgiu de experiência vivida pela curadora da mostra no Congo

postado em 18/06/2016 08:20

O dia a dia das mulheres que vieram para o Brasil foi mostrado pelas lentes de Victor Moriyama, a fim de mostrar o esforço que elas fazem para se adaptar a um novo estilo de vida

Cerca de 1.929 mulheres deixaram os países de origem devido a perseguições políticas, religiosas ou de gênero e estão refugiadas no Brasil, segundo dados do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare). Aqui, lutam para reconstruir suas vidas durante o longo processo de adaptação às leis, aos direitos, aos costumes e à nova língua. Com o intuito de retratar o esforço e as dificuldades enfrentadas por estas pessoas em territórios brasileiros, o cotidiano de sete refugiadas foi capturado, durante pouco mais de um ano, pelas lentes do fotógrafo Victor Moriyama. Composto por 23 fotografias, o trabalho estará exposto no Museu Nacional de Brasília, a partir de segunda-feira.

Os registros fotográficos fazem parte do projeto itinerante Vidas Refugiadas, idealizado pela curadora e advogada Gabriela Ferraz e apoiado pelo Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) e pelas organizações Human Rights Watch e Organização Internacional do Trabalho (OIT). Gabriela conta que a proposta da exposição é despertar, no público, um olhar sensível em relação às refugiadas e, assim, gerar um ambiente no qual a criação de políticas públicas específicas a elas seja viabilizada. ;Precisamos estabelecer uma unidade de apoio entre a comunidade e estas mulheres, para que o processo de integração seja facilitado;, comenta ; em outros lugares por onde a exposição passou, uma rede de ajuda ofereceu consultorias de imagem e processos de coaching, visando a integração no mercado de trabalho.

A ideia surgiu a partir de experiências pessoais da curadora. Gabriela trabalhou durante um ano em unidades de apoio às mulheres no Congo, país com o maior índice de violência sexual do mundo, de acordo com informações da Organização das Nações Unidas (ONU). Quando retornou ao Brasil, devido às situações presenciadas na África, decidiu ingressar em organizações não-governamentais relativas ao acolhimento de refugiados. ;Todas as mulheres que recorrem ao refúgio em território brasileiro têm histórias muito duras. Atravessaram o oceano para salvar suas vidas, foram obrigadas a deixar integrantes da família e, ainda assim, são verdadeiras fortalezas. Essas histórias precisam ser contadas e ouvidas;, opina Gabriela.

O desejo da curadora de tornar públicas as vivências de mulheres que utilizam o Brasil como refúgio se integrou à experiência de Victor Moriyama, com a retratação de temas sociais em registros fotográficos. Acostumado a capturar desigualdades sociais, o profissional destaca a importância deste projeto, em especial. ;Para alcançarmos uma sociedade com direitos equilibrados, precisamos de debates profundos. Muitos brasileiros não sabem a diferença entre imigrantes e refugiados. Dessa forma, a exposição contribui para que a sociedade entenda quem são essas pessoas, as apoie e defenda;, explica.

Sete exemplos
O processo de produção da exposição foi longo. No primeiro momento, Gabriela e Victor entrevistaram e escutaram os relatos de dezenas de mulheres que se refugiam no Brasil, até chegarem ao número de sete moças, vindas de diferentes países: Nigéria, Cuba, Síria, República Democrática do Congo, Angola e Burkina Faso, além de uma nacionalidade omitida. Após a seleção, 6 mil imagem foram feitas. Dessas, apenas 23 foram designadas para a composição da mostra de Brasília.

O resultado da proposta, segundo o fotógrafo, mudará a visão de quem visitar a exposição, que ficará disponível na capital federal até 24 de julho. ;Reproduzimos o discurso pronto de que o Brasil é multicultural, mas não notamos que, na verdade, estamos agrupados em núcleos comuns. Não há uma verdadeira integração na sociedade. O projeto Vidas Refugiadas mostra realidades diferentes, contadas por outra perspectiva;, destaca.

O lançamento da exposição ocorre na segunda-feira, às 19h, e contará com um debate mediado pela curadora Gabriela Ferraz e integrado pela coordenadora do Conare, Ana Beatriz Nogueira, por representante do ACNUR, Abel Marques, além das refugiadas vindas de Cuba e Nigéria. As visitações à mostra poderão ser realizadas de terça-feira a domingo, entre 9h e 18h30.

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