Ana Dubeux
postado em 19/06/2016 11:05
Por muitas vezes, falei aqui sobre a necessidade de diálogo e sobre a incredulidade de ver amizades de uma vida inteira sendo desfeitas devido a discussões políticas. Disse e repito que não vale a pena brigar com quem amamos por questões ideológicas. Porque o Brasil sobrevive aos destemperos políticos e econômicos, mas, na nossa vidinha, tantas vezes solitária, corremos um grande risco de isolamento por tremendas bobagens. Devemos, no entanto, fazer uma distinção importante.Amizades têm sido desfeitas em muitos casos pela intolerância, é certo. Mas também está havendo uma espécie de seleção natural das relações que valem e que não valem ser cultivadas. Tem muito vigarista, racista, fascista, homofóbico saindo do armário. E, de repente, você descobre que aquele amigo bacana de infância, com quem você mantinha relações cordiais, é uma dessas pessoas que dissemina o ódio indiscriminadamente. Sinto muito, pessoal, dar block neles não é sinal de intolerância; é apenas uma clara manifestação de que você não compactua e não tolera esse tipo de coisa.
Movidas por um reacionarismo, fundamentalismo, fanatismo ou seja lá o que você quiser chamar, a direita radical encontrou líderes políticos que não têm pudor de reverberar suas ideias esdrúxulas e criminosas contra os direitos humanos. E você não muda a opinião dessas pessoas pelo diálogo, é muito difícil que isso aconteça. Elas foram ensinadas a odiar desde o berço. Uma frase célebre de Mandela, com quem tenho me aconselhado ultimamente em minhas leituras, diz: ;Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor da pele, pela origem ou ainda pela religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar;. Eu, particularmente, acredito que esse aprendizado se dá desde a infância, pela educação que se recebe em casa. Depois, o sujeito só reproduz o que aprendeu e alimenta suas convicções buscando os iguais.
[SAIBAMAIS] O caso de Orlando, em que um terrorista entrou atirando numa boate gay, matando meia centena de pessoas, é uma prova irrefutável disso. As declarações do pai dele, em que diz ;cabia a Deus punir os homossexuais;, não deixam dúvidas de que ele aprendeu que a homossexualidade era passível de castigo. São muitos os exemplos. Temos de ter muito cuidado ao dar voz e espaço para quem pensa da mesma forma. E que hoje não tem a menor vergonha de admitir.
O que aconteceu na noite da última sexta-feira na UnB, e o vídeo mostra claramente que havia racismo e homofobia no pseudoprotesto contra a greve, é gravíssimo. Não se pode confundir ideologia com apologia criminosa contra direitos fundamentais. Estejamos atentos!