Cidades

Ministério Público é acionado após protesto na Universidade de Brasília

Cidadão quer responsabilizar uma das ativistas que participou de manifestação na sexta por incitar a violência. Ela diz que não há provas. Centros acadêmicos fazem ação hoje

Isabella de Andrade - Especial para o Correio
postado em 20/06/2016 06:00
Ato promovido pelos CAs está marcado para as 12h: agressão direta à comunidade, diz presidente do DCE

Os ataques homofóbicos e racistas sofridos por alunos na Universidade de Brasília (UnB) fizeram com que a comunidade acadêmica agisse. Os alunos prometem para hoje um ato contra o discurso de ódio, fascismo e violência no câmpus, principalmente após a manifestação na noite de sexta-feira, quando um grupo de cerca de 30 pessoas invadiu a instituição para protestar contra a ;doutrinação esquerdista; e alguns integrantes xingaram estudantes. Representantes da sociedade civil também reagiram às agressões verbais. No Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), uma representação responsabiliza a ativista Kelly Bolsonaro. Ela se defende, afirmando que não incitou violência no local.

O ato organizado pelo Centro Acadêmico de ciências políticas, apoiado por mais 32 CAs da UnB, está marcado para as 12h, no espaço conhecido como Ceubinho, localizado dentro do Instituto Central de Ciências (ICC). A intenção é reunir toda a comunidade ; estudantes, professores e funcionários. O presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Gabriel Bertone, afirma que a instituição apoia os estudantes e também repudia qualquer discurso de ódio ou violência. ;Foi uma agressão direta à comunidade acadêmica, independentemente de posicionamento político. Nós queremos prezar pelo respeito, tolerância e diálogo;, afirma.

A possibilidade de greve de parte dos professores da UnB no segundo semestre, motivada pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, é apontada como um dos motivos do protesto da última sexta-feira. O secretário-geral da Associação dos Docentes da UnB (AdUnB), Carlos Vidigal, afirmou que, no entanto, o movimento ainda é indefinido. Ele ressalta que, na assembleia ocorrida em 8 de junho, a proposta de levar o indicativo de paralisação foi aprovada e seguirá para análise no Sindicato Nacional. Vidigal reiterou o posicionamento geral da comunidade acadêmica. ;Nós não aceitamos qualquer tipo de manifestação que se valha de ameaças, coerção ou que incite a violência. Somos a favor do diálogo, do respeito à democracia e à diversidade;, afirma o professor.



A estudante Luiza Calvette, representante do CA de Ciência Política e vice-presidente regional da União Nacional dos Estudantes (UNE), aponta que a universidade deve ser um espaço de todos e que não pode tolerar nenhum tipo de preconceito ou discurso de ódio, qualquer que seja a ideologia. ;A UnB é um espaço de reflexão e debate em relação ao nosso país. Nós vimos naquela noite um discurso contra a nova universidade, contra as cotas, com palavras homofóbicas. Nós, dos centros acadêmicos, vemos isso de maneira muito preocupante. Então, organizamos esse ato para amanhã porque achamos que não é razoável deixarmos passar em branco;, declara a estudante.

Denúncia
O ato que resultou em agressões verbais na UnB virou alvo de denúncia no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). A ação protocolada responsabiliza a ativista conhecida como Kelly Bolsonaro. O autor do documento, o relações públicas George Marques, 26 anos, defende que o grupo incitou o terror no espaço acadêmico. ;A universidade não é um espaço para a violência. Todos têm o direito de se manifestar; o problema é quando se cria ares de terror. A Justiça tem que ser convocada para ter uma resposta desse grupo;, ressaltou.

Em entrevista ao Correio, a ativista afirmou que não era uma das organizadoras do protesto. ;Não havia um líder. O movimento veio a partir da união de pessoas, incluindo também alunos da instituição. Não posso ser imputada como organizadora, uma vez que não exerci essa função;, afirma Kelly. Ela reconhece que houve excesso por parte de alguns integrantes, mas que não é responsável por incitar violência. ;Em nenhum dos vídeos, em nenhum momento, eu apareço ofendendo alguém;, defendeu. Sobre a representação no MP, a ativista preferiu não comentar sobre o assunto.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação