O charme das livrarias de rua tem se tornado cada vez mais raro em Brasília. A crise econômica, atrelada às novas possibilidades oferecidas pela internet, está fechando as portas de diversos estabelecimentos desse segmento. De acordo com o Sindicato do Comércio Varejista de Material de Escritório, Papelaria e Livraria do DF (Sindipel), a queda nas vendas dos livros impressos chegou a 30% nos últimos três anos. ;Trata-se de um produto de cultura e lazer, para gente que tem prazer em comprar e ler o livro. Só que, no atual momento do país, as pessoas optam pelo essencial. Essas coisas supérfluas, o consumidor acaba deixando de lado;, explica o presidente do Sindipel, José Aparecido da Costa.
Ele é dono de uma rede de papelarias que também vende livros. No último ano, fechou três das sete lojas que mantinha. Além da queda nas vendas, a taxa de juros e o preço do aluguel contribuíram para que o empresário reduzisse o tamanho do negócio. ;Provavelmente, se essa situação continuar, até o fim do ano vamos fechar mais uma loja. As empresas não estão aguentando. Até as lojas de shoppings estão tendo problemas;, conta.
Na 111 Sul, a Le Calmon, onde também funcionava um café, encerrou as atividades após sete meses de serviço. O mesmo destino teve a Livraria Primavera, inaugurada no Sudoeste no começo do ano. Depois de seis meses, Heber Rodrigues teve de abandonar a iniciativa. Ele vendeu um carro para investir no empreendimento com a esperança de que o negócio traria retorno e, agora, precisará arcar com as dívidas. ;Além do aluguel e da baixa porcentagem de lucro na venda de cada livro, não teve a movimentação de clientes que a gente esperava. A cultura está ficando em segundo plano. As prioridades são outras;, lamenta.
Segundo o empresário, para custear as despesas do local e o salário de funcionários, teria de vender cerca de 20 mil livros por mês. ;Com essa crise, a gente não consegue ver uma luz no fim do túnel. Eu trabalhei com isso a minha vida toda, praticamente só sei fazer isso. Se ano que vem as coisas melhorarem, eu tento novamente.;
Antes de abrir o próprio negócio, Heber trabalhou 14 anos na Livraria Dom Quixote. A maior loja da rede ocupava um espaço de 150 metros quadrados no Gilberto Salomão, no Lago Sul. No entanto, a redução nas vendas fez com que o dono da Dom Quixote, Márcio Castagnaro, demitisse 23 funcionários e se mudasse para uma loja com aluguel mais baixo. ;A gente veio para uma loja no andar de baixo; reduzimos o tamanho para tentar ver se as coisas ficam mais viáveis. Nós já fechamos cinco pontos de venda desde o ano passado. Se as coisas continuarem assim, eu não sei se a empresa conseguirá atravessar essa crise até o fim do ano;, lamenta Márcio.
Ele mantém, ainda, livrarias em Águas Claras, na Rodoviária do Plano Piloto e no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Até junho, o comércio do Lago Sul vendeu, em média, 156 livros por dia. No ano passado, a estimativa era de 354, quase o dobro. ;A gente enxugou o máximo que deu. Não tenho mais onde cortar e, se continuar desse jeito, eu vou começar a acumular dívidas e sair queimado no mercado;, queixa-se o empresário.
Best-sellers
O presidente da Confraria dos Bibliófilos do Brasil, José Salles Neto, reconhece que a venda de livros diminuiu nos últimos anos, mas atribui isso ao próprio perfil dos consumidores. ;A internet influencia muito a venda de livros didáticos. O que acontece em Brasília é que o público migrou para as livrarias de shopping, onde tem segurança e é mais acessível;, argumenta. O morador da cidade também avalia que os comércios fechados recentemente perderam público por causa dos produtos oferecidos. ;Esses lugares têm produtos de melhor qualidade. Não vendem best-sellers nem livros didáticos. Sem vender esses livros, que são os mais procurados, não tem como sustentar aluguel tão alto como os cobrados aqui no Plano Piloto;, analisa.
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