Ao observar a previsão do tempo, é difícil ter outro pensamento: como driblar o frio. Escapar da baixa temperatura não é apenas conforto. O Correio foi às ruas da capital federal conhecer gente que precisa lidar diariamente com a situação, mas que nos últimos dias tem sofrido mais que o de costume. Pela cidade há crianças, idosos, prostitutas e moradores de rua sem ter o que fazer para frear a baixa temperatura. Na Fercal, região mais gelada do DF, cada um se vira como pode.
São 2,5 mil pessoas que moram nas ruas da cidade, de acordo com estatística de 2015 da Secretaria do Trabalho, Mulheres, Desenvolvimento Social, Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh). Taguatinga, Asa Sul (Rodoviária do Plano Piloto e Conic) e Gama são as regiões administrativas onde se registra a maior concentração. Para essas pessoas, cada grau a menos no termômetro significa muito. Há relatos de casos de hipotermia ; situação quando a temperatura corporal fica abaixo de 35;C e há risco de morte.
[SAIBAMAIS]Na Rodoviária do Plano Piloto, dezenas de pessoas se embaraçam num emaranhado de gente, cobertores e cumplicidade. Eles, verdadeiros refugiados urbanos, moram no local de maior circulação de gente na zona central. A poucos metros do Museu da República, o único tipo de arte que eles conhecem é a da sobrevivência. ;Este ano, tenho passado menos frio porque tenho duas cobertas e um casaco;, conta a ex-empregada doméstica Hilda de Almeida, 37, no asfalto há 1 ano e meio. Após se separar do marido, ela abandonou a família em Formosa, distante 80km de Brasília. Na semana passada, ela teve os documentos roubados.
Leia mais notícias em Cidades
O inverno rigoroso, segundo especialistas, é causado pelo El Niño ; fenômeno que provoca o aquecimento das águas do Oceano Pacífico e afeta diretamente o clima brasileiro. Em Brasília, na última semana, a temperatura despencou a 11,2;C e 9,9;C. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) alerta que, durante os próximos meses, as madrugadas continuarão geladas. Os índices devem permanecer na média dos 13;C. A temperatura pode declinar ainda mais se massas polares adentrarem o Centro-Oeste (leia Palavra de especialista).
A noite da última quarta-feira foi mais uma de incerteza para o militar da reserva Cristiano Costa Caiado, 83. O gaúcho chegou em 1959 e hoje vive perambulando pela cidade. Ele diz ter um filho policial militar que mora em Planaltina. Não revela o motivo de ter abandonado sua casa. ;Só tem uma coisa que incomoda mais que a dor do frio: é a dor do preconceito. As pessoas pensam que eu não sou gente;, reclama. A falta de amparo interfere diretamente no brio do idoso. ;Tenho que mendigar até o papelão em que eu durmo. O povo é atrasado;, critica (veja Depoimento).
A matéria completa está disponível , para assinantes. Para assinar, clique aqui.