Cidades

A história de uma foto histórica

Em artigo, filho de médico que atendeu o sargento Silvio Delmar Hollenbach, militar que morreu no Zoológico de Brasília em um ataque de ariranhas, relata momento em que pai recebeu o herói no HFA ainda vivo

Irineu Tamanini - Especial para o Correio
postado em 26/06/2016 16:23
Irmã do Sargento Sílvio Delmar Hollembach, atacado por ariranhas no Jardim Zoológico de Brasília, no Hospital das Forças Armadas - HFANo dia 27 de agosto de 1977 o sargento do Exército Silvio Delmar Hollenbach, gaúcho de Cerro Largo, então com 33 anos ; idade de Cristo ; passeava com a mulher Eni Teresinha e os quatro filhos pelo Jardim Zoológico de Brasília. De repente, ele presenciou a queda de um garoto de 13 anos, Adilson Florêncio da Costa, no tanque das ariranhas . O sargento largou imediatamente a mão dos filhos e pulou no fosso. Conseguiu salvar o menino dos ataques dos animais mas foi mordido inúmeras vezes pelas ariranhas.

Desacordado e muito machucado, foi levado às pressas para o Hospital das Forças Armadas, o HFA, que fica a poucos quilômetros do Jardim Zoológico. Foi atendido pelo cirurgião Jofran Frejat (tio do cantor Frejat), que anos depois se elegeu deputado federal e chegou até a ocupar a Secretaria de Saúde do Distrito Federal. O sargento levou mais de mil pontos em todo o corpo.

Do lado de fora, se concentrava um batalhão de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas. Entre eles, o saudoso Tadashi Nakagomi, do Correio Braziliense. Eu havia iniciado recentemente minha carreira de repórter no Correio Braziliense (11 de maio de 1976) na Editoria de Esportes. Fiquei muito amigo do Tadashi (um torcedor fanático do São Paulo) nas inúmeras pautas que cumprimos juntos, principalmente no estádio Pelezão. A amizade no trabalho se estendeu e se transformou em amizade familiar. Ele passou a frequentar a casa dos meus país que naquela época residiam na 112 Sul.

[SAIBAMAIS]No dia do acidente meu pai, o dr Waldemar Henrique Tamanini, hoje com 84 anos e residindo novamente no Rio de Janeiro, era o chefe das Relações Públicas do HFA. O batalhão de jornalistas deixou a sua sala completamente lotada. De repente, ele viu no meio daquela multidão o Tadashi, um fotógrafo de primeira linha e de quem ele gostava muito.

Você aqui também. Se precisar de alguma coisa fale comigo, disse meu pai ao Tadashi. O ;japonês;, como era chamado carinhosamente pelos colegas, falou baixinho para o meu pai. Posso fazer uma foto do sargento? Meu pai, saiu da sala com ele e no corredor disse o seguinte: vamos até à sala onde está se recuperando o sargento. Ele, graças a Deus, está vivo mas levou mais de mil pontos.

Dito e feito. Tadashi entrou na sala de recuperação com sua poderosa máquina fotográfica e fez a única imagem do heroico sargento Hollenbach ainda vivo. A foto foi capa no dia seguinte do Correio Braziliense. Foi distribuída pela ANDA (Agência de Notícias dos Diários Associados) e correu o mundo. Dois dias depois, o militar faleceu.

Meu pai foi o responsável por levar o caixão do hospital para o aeroporto de Brasília. ;Eu participei desta história. Fui encarregado de todos os detalhes para a transferência do corpo para Porto Alegre. Minha missão só terminou com a entrega do corpo ao departamento de cargas do aeroporto. Foi um dos dias mais tristes da minha vida;, disse neste sábado (25) meu pai em mensagem enviada para o whattsApp do meu celular.

O menino salvo pelo sargento Hollenbach cresceu e hoje, quase 40 anos depois, volta às manchetes do Correio Braziliense (onde tive o orgulho de começar a minha carreira de jornalista), mas agora de forma negativa. Adilson Florêncio da Costa foi preso ao longo da semana durante a Operação Recomeço, deflagrada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal que apura desvios de até CR$ 90 milhões em recursos públicos dos fundos de pensão.

;Esse menino Adilson enlutou um lar. É muito triste que tenha se tornado um malfeitor;, disse hoje (26) meu pai em matéria publicada no Correio Braziliense.

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