Cidades

Fórum Nacional dos Delegados defende alterações na Lei Maria da Penha

Juíza do Juizado Especial Cível Criminal do Recanto das Emas, Theresa Karina de Figueiredo, por sua vez, acredita que as mudanças podem ferir o controle judicial da lei

Luiz Calcagno
postado em 30/06/2016 00:14
O Fórum Nacional dos Delegados de Polícia emitiu um parecer em defesa do Projeto de Lei Complementar 07/2016, apontado como retrocesso na luta pelos direitos das mulheres vítimas de violência. Conforme publicado pelo Correio Braziliense na edição desta quarta-feira (26/6), O PLC sofreu ataques por parte de movimentos feministas, e foi criticado no lançamento do movimento #SomosTodosVítimas, na Universidade de Brasília (UnB). O projeto é resultado da ação e dos estudos de um grupo de trabalho permanente contra o feminicídio.

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Segundo o documento emitido pelo fórum, o PLC ;não altera ou revoga qualquer dispositivo da Lei Maria da penha;. Na lógica dos representantes da organização, o artigo segundo do projeto, que afirma que a Lei 11.340/16 vigorará acrescida de novos artigos, mas não sofrerá nenhuma substituição ou alteração direta no texto, garantiria a integridade dos direitos e mecanismos de proteção já conquistados.

[SAIBAMAIS]Consta, ainda, no parecer, que o PLC, que o complemento à Lei 11.340/16 garante medidas protetivas prévias, antes até de uma intimação do oficial de Justiça e do parecer de um juiz. ;O projeto propões estabelecer atendimento especializado policial e pericial em favor da vítima de violência doméstica e ampliar as garantias das mulheres, criando mais uma esfera de proteção, de natureza imediata.;

Os delegados responsáveis pelo texto argumentam, ainda, que essa celeridade não atrapalha o contato da vítima com um juiz. ;A lei prevê um prazo de 48 horas para o envio das protetivas ao juiz, que tem mais 48 horas para decidir, totalizando quatro dias. Além disso, as protetivas não terão efetividade enquanto o oficial de Justiça não intimar o agressor que nesse tempo, muitas vezes fugiu.;, reforçam.

;Além disso, quando a delegada ou o delegado deferir as protetivas, tudo será encaminhado ao juiz em 24 horas, para realizar o controle judicial, que poderá alterar, manter ou revogar as medidas defendidas;, conclui trecho do parecer. O PLC está em discussão na Comissão de Constituição e Justiça CCJ do Senado, em um ano importante para o combate à violência contra a mulher. A Lei Maria da Penha completará 10 anos em agosto e é a terceira melhor lei de enfrentamento à violência contra a mulher, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).

Contraponto

Apesar do afã do Fórum Nacional dos Delegados de Polícia em defender o projeto, a juíza do Juizado Especial Cível Criminal do Recanto das Emas, Theresa Karina de Figueiredo mostra uma interpretação diferente. Segundo ela, as mudanças podem ferir o controle judicial da lei. ;Querem dar ao delegado de polícia o poder de, por exemplo, expedir uma medida protetiva ou revogá-la; e de decidir guarda de filhos. Temos varas especializadas para isso. Colocar nas mãos do delegado é tratar a questão de forma pequena;, defendeu a juíza. Ela irá ao Senado para sensibilizar os senadores sobre a questão.

No ano passado, o Ligue 180 da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República recebeu 749.024 ligações no Brasil. O DF tem a maior quantidade de atendimentos. Das 13.066 ligações registradas no Ligue 180 referentes à capital federal, 2.095 eram de histórias de violência ; a média é de 5,7 casos por dia. Quase metade só de agressão física. Segundo os últimos dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entre 2009 e 2011, o país permitiu o assassinato de 16,9 mil mulheres.

;Quando não mata, fere;

Em 1; de maio, o Correio começou a publicar uma série de matérias sobre violência contra a mulher, com o nome de Quando não mata, fere. O intuito foi mostrar histórias como a da estudante da Universidade de Brasília Louise Ribeiro, morta pelo ex-namorado Vinícius Neres, entre outros casos. Além de mostrar, em números, o sofrimento e as mortes. O conjunto de sete reportagens retratou a cultura do machismo que existe no país e na capital. Também apontou a importância de leis que nasceram para proteger as vítimas, como a Maria da Penha e a do feminicídio. Como forma de manter posição na luta contra esse tipo de crime, no dia 25 de cada mês, o jornal publica uma matéria para lembrar o Dia pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, criado por iniciativa de órgão da ONU, e chamado de Dia Laranja. ;Sendo uma cor vibrante e otimista, o laranja representa um futuro livre de violência contra mulheres e meninas;, aponta a organização.

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