Adriana Bernardes
postado em 03/07/2016 07:50
Lucas Puhl, 26 anos, é incapaz de calcular as vezes em que pulou em rios e cachoeiras, de cima de árvores e barrancos. Também já empurrou e foi impulsionado em piscinas outras tantas. No entanto, ocorreu em um mergulho voluntário a perda dos movimentos dos braços e das pernas, no começo deste ano. Ele quebrou o pescoço ao bater a cabeça no fundo da piscina. ;Eu nunca imaginei que um salto teria consequências tão sérias;, comenta. Ele não é o único a subestimar as ameaças desse tipo de lazer.
Levantamento da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação revela que 70% das vítimas de lesão medular decorrente de mergulho não sabiam do risco. O perigo mora em casa, mais do que em cachoeiras, rios e lagos. As estatísticas da unidade de saúde revelam que um quarto dos casos ocorrem em quintal de residências e em clubes. O Distrito Federal reúne pelo menos três ambientes muito frequentados e propícios para esse tipo de acidente: está entre as cidades com o maior número de piscinas do país; tem o Lago Paranoá e está próxima de cidades como Pirenópolis (GO) e municípios da Chapada dos Veadeiros.
O inverno e a primavera são as estações perfeitas para esse tipo de passeio. Em contraponto ao tempo frio, o céu azul e a escassez de chuva deixam os rios limpos e eliminam o risco de trombas d;água provocadas pelas pancadas de chuva. Em meados de agosto e setembro, quando o calor começa, a atividade aquática é uma das opções de lazer preferidas.
Histórias como a de Lucas, Arthur e José Gil, contadas nesta reportagem, servem de alerta para crianças, jovens e adultos. Lucas, por exemplo, diz não ter feito nada diferente que pudesse justificar o acidente responsável por deixá-lo na cadeira de rodas. ;Cheguei, pulei e bati com a cabeça no fundo;, relembra (leia Depoimentos). Mãe de Lucas, Liane Maria Puhl dos Santos, 52, acompanha o filho, em tratamento no Sarah. Os olhos ficam marejados quando ela se recorda dos primeiros momentos do pós-cirúrgico. ;Ele dizia: ;Pega no meu pé. Mais forte, mais forte. Tu não estás pegando direito;. É porque ele não sentia. Nunca pensei que uma coisa dessas pudesse acontecer;, lamenta.
Paulo Beraldo, um dos médicos da equipe da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, diz que o mergulho representa 5% de todas as lesões medulares traumáticas por causas externas. O primeiro desafio da equipe ao receber esses pacientes é a fase de enfrentamento. ;Eles passam por um período de negação. Isso exige uma abordagem multidisciplinar, com psicólogos, psiquiatras e, às vezes, medicamentos;, conta. ;A medicina avança muito nessa área. Na Primeira Guerra Mundial, quase todos os soldados americanos com lesões na medula morreram. Na Segunda Guerra, 80% conseguiram voltar para casa e alguns retornaram ao trabalho. Nossa meta é que os pacientes retomem suas vidas, inclusive a profissional;, diz Beraldo.
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