Luiz Calcagno
postado em 10/07/2016 08:10
Proibida pelo filho de entrar na própria casa, em Samambaia, Maria de Lourdes Silva, 80 anos, precisou de ajuda para retornar ao lar. Foram três meses de conversas na Central Judicial do Idoso para que a filha, Maria Lúcia da Silva, 59, chegasse a um acordo com o irmão e garantisse que a idosa recuperasse o direito de passar o restante da vida em um lugar que fosse dela. Em outro caso, Walter* foi ameaçado de morte por um dos filhos, usuário de drogas. O homem, de 74 anos, só não morreu porque o primogênito interveio, o que resultou em mais violência. A confusão aconteceu na residência da vítima, em Ceilândia. Hoje, o senhor paga um aluguel extra para manter o agressor em um imóvel, em Brazlândia. Ele também acionou a Justiça e conseguiu uma medida protetiva para mantê-lo afastado.
Embora ilustre bem as crescentes estatísticas de violência e desrespeito contra a terceira idade no Distrito Federal, o drama vivido por Maria de Lourdes e Walter terminou sem que eles tivessem de deixar de vez o próprio lar e a própria família. Em muitas outras situações, é preciso tirar o idoso de casa, temporária ou permanentemente. Os motivos são vários e vão desde a violência e o abuso contra essa parcela da população até a impossibilidade de o maior de 65 anos se cuidar sozinho. Geralmente, a saída é uma instituição de longa permanência para idosos (ILPI) filantrópica ou particular. No primeiro caso, a lista de espera é longa. No segundo, os valores variam, mas são, em geral, inacessíveis para a maioria, principalmente em tempos de crise. Para se ter uma ideia, há mensalidades de R$ 3 mil a R$ 15 mil.
Enquanto o Estado não alcança a todos, o número de casos de abuso, desrespeito e violência aumenta. A média diária de denúncias registradas pelo Disque 100 da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República em 2015 foi de 2,27. Nos primeiros quatro meses do ano, o número cresceu para 2,47, um crescimento de 0,20 ponto percentual. E, desde 2011, quando o serviço começou, a quantidade de registros só cresce. A Central Judicial do Idoso, formada pelo Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT), pelo Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) e pela Defensoria Pública do DF fez, em 2016, 657 atendimentos. Desses, 178 estão relacionados à violência contra a terceira idade e 54 dos autores das agressões são os filhos das vítimas (veja Contra o descaso).
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