postado em 17/07/2016 08:00
Foi preciso apenas uma hora para que o sábado à noite da nutricionista Bia Diniz, 23 anos, ficasse com cara de manhã de segunda-feira. Em uma roda de amigos durante uma festa realizada em 9 de julho, ela percebeu que a bolsa havia sido aberta. ;Estávamos todos juntos, o meu marido ao meu lado. Mas ninguém viu nada. Quando mexi na bolsa, vi que haviam levado o meu celular. Nunca havia passado por algo assim;, lembra a jovem, que teve um Samsung Galaxy S6 furtado. No site oficial da marca, o aparelho custa R$ 2.699.
Ela não foi a única vítima de ladrões no evento. Durante o evento, no estacionamento do Ginásio Nilson Nelson, uma dupla acabou presa com 32 celulares furtados. Um dos detidos, Matheus Rodrigues de Oliveira, escondia 28 telefones ; os equipamentos estavam em uma calça de lycra colocada por baixo da calça jeans. O delito é constante nos mais diversos eventos do Distrito Federal, principalmente pela dificuldade de prevenção. Segundo o capitão Michello Bueno, da assessoria de Comunicação da PM, os bandidos confiam na impunidade. ;Eles estão em quase todas as festas. O crime é vantajoso, porque o lucro da venda é grande, e a pena, branda. Aqueles que são presos têm, em média, seis passagens por furtos de celular;, frisa o oficial. Além disso, reforça Michello, com a quantidade de festas no DF, é comum a atuação de vários grupos de bandidos, tornando ainda mais complicadas ações direcionadas.
Dados da Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social mostram que, entre janeiro e junho, houve o registro de 2.895 furtos de aparelhos celulares em todo o DF ; a média é de quase 16 por dia. Nesse período, 120 pessoas foram presas pelo crime. Porém, não é só quem pratica o ato que comete uma transgressão. Os compradores dos telefones também sofrem sanções. De acordo com o artigo 180 do Código Penal, ;adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso; pode render detenção de 1 mês a 1 ano.
A delegada Cláudia Alcântara, da 3; Delegacia de Polícia (Cruzeiro), explica que a compra de um celular usado deve ser feita com atenção. ;Mesmo que haja nota fiscal, ela pode ser fria;, alerta. Por isso, ela reforça: todas as vítimas devem registrar ocorrência para que o Imei (sequência numérica dos celulares equivalente ao chassi de um automóvel) possa ser arquivado no banco de dados e, caso o telefone seja recuperado, a informação chegue à vítima (leia O que diz a lei). Além disso, essas referências permitem que a Polícia Militar identifique os locais de furtos mais frequentes. ;Atualmente, conseguimos recuperar uma média de 70% dos celulares furtados. Na pior das hipóteses, fazer a denúncia vai ajudar com que as polícias possam melhorar a cobertura, evitando que possam acontecer novos casos;, explica a investigadora.
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Foi isso que a médica-veterinária Marcela Lobo Tokatjian fez assim que percebeu que havia sido furtada no subsolo do Teatro Dulcina, durante uma festa em 17 de junho. ;Eu sempre fui muito cuidadosa. Mantinha o celular em um bolso fechado com zíper, dentro da bolsa. A pessoa que levou conseguiu abri-la sem que eu percebesse, e eu fui direto para a delegacia;, lembra. Marcela usava o iPhone 6, que custa a partir de R$ 3.199 no site oficial da marca, para trabalho. Ele tinha 6 mil fotos armazenadas.
Além disso, a veterinária quase caiu em um golpe por causa do crime. O sistema operacional dos aparelhos da Apple contam com a tecnologia ;Modo Perdido;. Ela bloqueia o dispositivo com um código, impedindo que outros acessem informações pessoais do dono. Dessa forma, os ladrões são obrigados a vender apenas partes do celular, com lucro bem menor. Com a opção, Marcela usou o número da mãe para receber informações que pudessem mostrar a localização do seu telefone. ;Começaram a chegar mensagens que diziam que o meu celular tinha sido encontrado, mas que era preciso entrar em um site e dar a minha senha do iCloud. É um site falso, que rouba as senhas para que eles possam desbloquear os aparelhos;, conta.
Responsabilidade
O professor Felipe Melo, 28 anos, deixava a mesma festa da nutricionista Bia Diniz, no Nilson Nelson, quando sofreu um assalto. ;Não fui furtado, o que é pior. Ia para o meu carro, e ele (o bandido) me parou. Senti-me totalmente indefeso e, pior, quando procurei a polícia, eles me disseram que não poderiam fazer nada;, queixa-se. O jovem afirma que, apesar dos vários casos, o número de seguranças dentro do evento era grande, diferentemente da quantidade de policiais no estacionamento do local.
De acordo com a delegada Cláudia Alcântara, sob o ponto de vista da imputabilidade penal, organizadores de eventos não podem ser responsabilizados por roubos e furtos que ocorram durante as festas. ;A não ser que seja provado que eles facilitaram a ação dos bandidos;, frisa.
Em nota, a organização do evento informou que ;todas as medidas de segurança inerentes a eventos desse porte foram tomadas pela equipe. São elas: comunicar a segurança pública e aguardar autorização da mesma, reunir-se com os órgãos competentes para definir medidas de segurança ; inclusive do trânsito ao redor do local ;, e cumprir todas as exigências e normas desses órgãos, como contratar um segurança interno para cada 80 pessoas, três brigadistas a cada mil, ambulâncias, saídas de emergência sinalizadas, extintores, iluminação de emergência por gerador, entre outras.;
O capitão Michello Bueno explica que o contingente sempre é baseado na expectativa de público das festas e que, além disso, são deslocados agentes à paisana para circular entre as pessoas. ;Caso a segurança do evento perceba algo diferente, ela deve solicitar reforços da PM;, diz.
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