Cidades

GDF cria campanha em escolas do DF para combater hanseníase

Portadores do mal reclamam da falta de continuidade no tratamento e do preconceito que até hoje sofrem. Meta das autoridades é reduzir a incidência para um caso a cada 10 mil habitantes

Otávio Augusto
postado em 17/07/2016 08:05

Maria Rodrigues Rocha viveu durante 10 anos em locais chamados leprosários:

A hanseníase, mal conhecido no passado como lepra, ainda hoje faz vítimas, assusta as pessoas e mantém a distância os infectados ; vítimas também do preconceito. Somente nos primeiros quatro meses do ano, a Secretaria de Saúde notificou 79 casos da doença na capital federal ; 30% do total registrado em 2015, quando houve o registro de 267 situações. O governo começa, no próximo mês, uma campanha nas escolas públicas para identificar novas contaminações. A intenção do Executivo local é examinar pelo menos 90 mil crianças a fim de diagnosticar a infecção precocemente. Nesse cenário, pacientes cobram mais verba para o tratamento. Desde 2014, as equipes especializadas que atendiam em 54 postos de saúde pela cidade foram extintas.

Na última década, a hanseníase acometeu 2.731 pessoas no DF. A meta das autoridades sanitárias é reduzir a incidência da doença para menos de um caso a cada 10 mil habitantes. Há três anos, a taxa não é atingida. Atualmente, a propagação está em 1,18 caso para cada grupo de 10 mil. O Ministério da Saúde recomenda que, em 75% das situações, ocorra o monitoramento dos contatos (para mapear as infecções), mas isso também não ocorre. ;Precisamos interromper a cadeia de transmissão;, reconhece Diva Previtera, da Gerência de Dermatologia Sanitária da Secretaria de Saúde. Ceilândia e Planaltina são as regiões administrativas com mais doentes. Cerca de 52,7% dos casos são em mulheres.

Negligência
A servidora pública aposentada Marly Araújo, 62 anos, presidente do Grupo de Apoio às Mulheres Atingidas pela Hanseníase (Gamah), acompanha uma parcela da população que ela diz ;ser negligenciada;. Começou a sentir os sintomas da doença em 1993 e chegou a ser aposentada sob suspeita de lesão por esforço repetitivo (LER). Apenas em 2000, soube que tinha hanseníase. ;Não temos um programa que trate o paciente. Há um número grande de doentes com sequelas que não são computados. Não é feito nenhum tipo de acompanhamento das sequelas pós-cura;, reclama, ao ressaltar que faltam insumos de autocuidado, como luvas, hidratantes e sapatos especiais. O Gamah assiste cerca de 40 famílias por meio de doações.

Os livros de história retratam a hanseníase como um dos males mais amedrontadores da humanidade, ao lado da peste negra (doença pulmonar infecciosa). As deformidades que a doença provoca eram motivo de confinamento nos chamados leprosários. Maria Rodrigues Rocha, 70, viveu por uma década num desses locais. Em 1956, aos 11 anos, a extinta Polícia Sanitária a retirou de casa para tratar do mal no Hospital Colônia Santa Marta, em Senador Canedo (GO), distante 224km de Brasília. As marcas indeléveis estão por todo corpo, mas sobressaem nas mãos e nos cotovelos. ;Ficávamos como numa prisão;, conta a moradora de Planaltina (leia Depoimento). Somente em 1962, a prática foi proibida.

A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação