postado em 20/07/2016 06:10
Há quase cinco décadas, o clínico-geral Pedro Luiz Tauil, 75 anos, estuda o comportamento de doenças contagiosas, como a dengue, a febre amarela e a malária. ;O único elo vulnerável para a interrupção da transmissão ainda é o controle do mosquito;, explica. Formado pela Universidade de São Paulo, o mestre e doutor já publicou mais de 100 trabalhos relacionados ao tema, entre livros e artigos. Na tarde de ontem, ele avaliou a situação do DF a pedido do Correio. O especialista, que está em Brasília desde 1976, acredita que em 2017 a chicungunha e a zika podem ter uma grande taxa de contaminação. Confira trechos da entrevista.
Por que o Aedes é difícil de se combater?
Por que o Aedes é difícil de se combater?
O mosquito tem uma capacidade de adaptação grande e o combate depende de ações intersetoriais, como de saúde, educação e saneamento básico, que são importantes para reduzir os locais prováveis de criação do mosquito.
Há novas técnicas de controle disponíveis?
A Fundação Oswaldo Cruz testa, no Rio de Janeiro, uma técnica australiana. Eles distribuem mosquitos com uma bactéria que impede que sejam infectados com as doenças. Outras pesquisas envolvem insetos transgênicos, cujos machos fecundam a fêmea, mas a prole não se desenvolve. Há também mosquitos irradiados com raios gama, que os tornam infértil. Estão testando larvicidas biológicos não nocivos ao ambiente.
A vacina é o melhor caminho?
Sim. Vários estudos desenvolvem imunobiológicos. Está registrado um tipo na Anvisa, mas ainda não é perfeito. Ele foi elaborado por mais de 20 anos, entretanto, leva um ano para imunizar o indivíduo, com três doses. Além disso, não protege contra todos os sorotipos ; não pode para menores de 9 anos e maiores de 49.
A que se atribui a reemergência da dengue?
Nunca houve tamanha concentração de gente na área urbana. As pessoas estão vivendo em condições de habitação precárias e saneamento inexistente. O mosquito se alimenta apenas de sangue humano. Ninguém no mundo consegue controlar a dengue atualmente.
O Aedes é negligenciado?
O mosquito foi combatido para a eliminação da transmissão urbana da febre amarela. Na década de 1960, foi extinto do Brasil e de outros 17 países da América, mas ele voltou a se reinfestar por questões de saúde pública e de habitação. Hoje, só o Canadá não é infestado. Nesse cenário, a febre amarela pode voltar, mas menor porque tem a vacina. Em Angola e no Congo, tem epidemia de febre amarela pela infestação do Aedes.
Fazemos o combate correto?
As técnicas atuais não são suficientemente eficazes. O mosquito tem uma capacidade de sobrevida maior que a do ser humano. A eliminação de uma espécie é quase impossível. Temos que ter foco na vacina e no tratamento para controlar as doenças.
Existem riscos de contaminação por dengue, chicungunha e zika durante as Olimpíadas?
O risco existe, mas é baixo. Estamos num momento de baixa transmissão pela redução de densidade do mosquito. A secura e as baixas temperaturas resultam numa menor reprodução do mosquito. Entre novembro e maio isso vai se agravar. A doença é sazonal. (OA)