Helena Mader
postado em 27/07/2016 06:03
Quando o premiado filme Garota dinamarquesa estreou, no início deste ano, o procurador de Justiça Diaulas Costa Ribeiro recebeu dezenas de ligações de parentes e amigos que queriam repercutir a história mostrada nas telas. ;Você fala sobre isso há mais de 20 anos e agora o assunto chegou ao cinema;, repetiam os interlocutores. O filme mostra a vida de Lili Elbe, uma talentosa pintora que se transformou em pioneira da causa dos transgêneros. Durante os 16 anos em que esteve à frente da Promotoria de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde, Diaulas lutou duramente pelos direitos de transexuais. Nomeado ontem desembargador do Tribunal de Justiça do DF pelo presidente interino, Michel Temer, o procurador cita essa batalha como uma das maiores causas da sua vida profissional. ;Fui a primeira autoridade brasileira a olhar um transexual e dizer ;aqui há um ser humano;. Hoje, o movimento ganha força e respeito de norte a sul do país;, comenta o novo integrante do Poder Judiciário.
A nomeação de Diaulas foi publicada na edição de ontem do Diário Oficial da União. O procurador, que tem 25 anos de experiência no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, integrou a lista tríplice elaborada pelo TJDF com os colegas José Firmo e Vitor Fernandes Gonçalves. Aos 54 anos, ele se tornará um representante da Justiça depois de enfrentar controvérsias rumorosas no MP. O desafio da discrição será uma das novidades da função. ;Não serei promotor vestido de toga. Mas levo comigo os valores da instituição, que construíram o meu caráter profissional;, afirma Diaulas. ;Agradeço a confiança do presidente da República e sua equipe pela indicação do meu nome.;
Doutor em ciências jurídico-criminais pela Universidade Católica Portuguesa, ele é também pós-doutor em direito e bioética médica pela Universidade Complutense de Madrid. A experiência na área da bioética notabilizou a atuação de Diaulas Ribeiro, conhecido por seu perfil progressista. A defesa de transexuais, em uma época em que essas pessoas ainda enfrentavam uma realidade de completa invisibilidade social, foi uma de suas bandeiras. ;Consegui trazer os transexuais para dentro do Ministério Público como pacientes, e não como bandidos. Eles só entravam aqui por questões como uso de documento falso. Trabalhei muito para garantir dignidade a essas pessoas, que foram vítimas de uma loteria da natureza;, relembra.
Rejeição
Por conta de sua defesa aberta de temas sensíveis como aborto de anencéfalos, união entre pessoas do mesmo sexo e pesquisas com células-tronco ; muito antes de um posicionamento favorável do Supremo Tribunal Federal a esses assuntos ;, Diaulas foi alvo de uma campanha difamatória no Congresso Nacional na época de sua indicação para uma vaga no Conselho Nacional do Ministério Público. Em 2007, ele conseguiu o aval do Senado e assumiu o cargo de conselheiro. Mas, dois anos depois, quando seria reconduzido ao posto, teve o nome rejeitado pelos senadores, graças à pressão de setores conservadores.