No último sábado (28/7), a aposentada Ana Maria da Silva Fernandes, 67 anos, reencontrou uma filha, levada de casa aos 14 anos. Foram mais de três décadas de distância. Com Ivone, hoje com 47 anos de idade, vieram dois netos que Ana Maria nem sequer sabia que existiam. Assim como a mãe, Daniel, 19 anos, e Renilda, 20, têm deficiência mental, e precisam de vigilância constante. Em meio a tanta felicidade, o mais novo sumiu de casa dois dias depois de chegar em Brasília, enquanto a família ainda festejava o retorno deles. O rapaz foi encontrado na região do Incra 6, a quase 10km de distância da casa da avó, em Águas Lindas (GO). O novo reencontro da família Fernandes ocorreu na manhã desta segunda-feira (1;/8).
Daniel estava vagando por uma fazenda às margens da BR-080. Entrou em uma propriedade durante a madrugada de ontem e tentou pedir abrigo ao chacareiro, batendo na porta da casa dele. Mas, assustado, o homem não atendeu. Pela manhã, o jovem, que não fala e tem dificuldade para escutar, ainda estava lá. Não houve possibilidade de diálogo entre os dois e, por isso, o dono do terreno acionou a Polícia Militar. ;O Daniel não conseguiu explicar nada, então, tivemos que tentar amarrar a história por conta própria. Fomos a Brazlândia verificar ocorrências de desaparecimento e chegamos até a visitar uma escola para crianças especiais, mas a instituição ainda estava de férias;, contou o sargento Gilberto Lima.
A solução para o sumiço de Daniel parecia distante quando uma pessoa abordou a equipe da PM na rua, durante patrulhamento, alegando ter reconhecido o jovem. A foto dele estava em uma rede social, com pedido de ajuda. Na postagem, havia o endereço dos Fernandes, no bairro Padre Lúcio, em Águas Lindas. O local fica há cerca de 10km de distância de onde ele estava. A família recebeu o caçula de Ivone às 9h desta segunda.
Daniel fugiu de bicicleta às 16h do último sábado (31/7). Ele é apaixonado pelo transporte e, como não tem uma bike, acabou levando a do vizinho para emprestada. O jovem se perdeu no caminho e foi considerado desaparecido pela família, que não registrou ocorrência mas pediu ajuda na página do Facebook.
Pelo computador
A rede social também protagonizou o reencontro de Ana Maria com Ivone, 33 anos após vê-la pela última vez. ;Ela ainda era uma criança quando foi embora. Nem sabia da doença, não sabia de nada. Meu filho procurou ela no computador e voltou mostrando fotos e dando notícias. Juntamos dinheiro e mandamos buscar Ivone e os meninos;, explicou a matriarca.
Ivone relatou ter sido levada por um homem, a quem chama de marido, aos 14 anos de idade. Eles foram morar na cidade de Água Boa, interior do Mato Grosso. ;Ficamos juntos durante 15 anos, mas ele sumiu. Me batia, me tratava mal. Fiquei sozinha com os meninos, vivendo do benefício que o governo paga mensalmente a eles. Também sou deficiente mental e não trabalho;, contou ao Correio.
As passagens de ônibus para trazer Ivone, Daniel e Renilda foram divididas entre os outros nove filhos de Ana Maria. O trajeto levou dois dias. ;A casa está cheia. A gente é fraco e pobre, mas, juntos, somos fortes e felizes;, finalizou a aposentada.