postado em 12/08/2016 20:25
Há dois meses, Sophia Costa, 22 anos, não sabia nem sequer se seu projeto de conclusão de curso seria aprovado. Mal imaginava ela que, em agosto, depois de ver seu projeto divulgado em vários veículos de comunicação, receberia um convite para levar sua exposição de fotografias Raízes para Berlim, capital da Alemanha. O problema é: recém formada em publicidade e propaganda, a artista conta com a ajuda de amigos e familiares, que organizam uma "vaquinha online", para bancar os custos da viagem ao país europeu.
As fotos de Sophia falam do empoderamento da mulher negra e têm como maior símbolo o cabelo crespo e cacheado - um tema bem pessoal para a moça, que deixou de alisar as madeixas quando descobriu o feminismo e a negritude na universidade. Elas retratam mulheres negras como deusas, guerreiras e rainhas, sempre com uma temática étnica.
A jovem recebeu o convite para levar sua exposição para um evento sobre empoderamento de mulheres, que acontecerá em setembro na cidade europeia, organizado pelo instituto Susi Interkulterelles Frauzentrum. Uma das curadoras é uma brasileira radicada em Berlim, que conheceu as do Raízes graças à enorme repercussão que teve no Brasil.
Depois de algumas semanas de conversa com o instituto, Sophia oficializou nesta segunda-feira (12) o envio da exposição. Recém formada e sem ter condições de pagar uma viagem para acompanhar sua própria exposição, a artista e seus amigos tiveram uma ideia: realizar uma vaquinha online para pagar sua passagem e seguro-saúde.
"O objetivo do meu trabalho é que a mensagem de empoderamento da mulher negra chegasse ao maior número de pessoas possível. Não só estudantes da UnB. Não só negros e negras;, explica a moça. ;Então, se eu puder emponderar mulheres brasileiras e mulheres lá fora, melhor ainda;, diz.
A publicitária saiu do país uma única vez, em julho, quando se deu de presente de formatura uma viagem de nove dias para Buenos Aires, na Argentina. A ideia da vaquinha é que qualquer ajuda é bem vinda: "de R$ 1 ao infinito;. Além disso, o pagamento pode ser feito por meio de boleto ou cartão de crédito. O meta inicial é de R$ 3,5 mil, para pagar o mínimo: passagens e seguro-saúde. A organizadora do evento, a brasileira, convidou Sophia para ficar na própria casa, o que já retira custos de estadia da lista.
;Comida, transporte, vou me virando, mas qualquer ajuda é bem vinda. Eu não tenho dinheiro e meus pais não têm como me ajudar;, conta.
De livro a exposição
A ideia inicial de Sophia era criar um livro com as fotografias, mas, depois que viu o resultado, achou que uma exposição teria mais a ver. Assim, ela organizou uma espécie de vernissage na Asa Sul - seus professores também foram e a avaliaram por isso.
Em seguida, conseguiu um contato um shopping do DF e levou a exposisção para lá, onde ficou duas semana. O evento teve, inclusive, a presença do cantor Chico César, que se apresentou no mesmo dia e resolveu dar uma passeada pela exposição. As fotos vinham acompanhadas de frases de poemas e uma delas trazia um trecho de ;Respeite meus cabelos brancos; do cantor.
;Nunca imaginei que pudesse atingir tanta gente assim. Várias mulheres de outros estados vieram falar comigo, disseram que se identificaram no projeto, que se viram ali;, conta. ;Eu pesquisei, li e estudei muito para fazer esse trabalho. É um trabalho sério e real, mostra o que as mulheres sentem. Dialoga com pessoas;.
O próximo passo de Sophia é expor o Raízes na Fundação Palmares, em Brasília, de 22 a 26 de agosto. Ela também estuda levar o trabalho para o Rio de Janeiro e aumentar o número de fotografias no mês da consciência negra, novembro.
