Jornal Correio Braziliense

Cidades

Campanha iniciada pelo Correio conquistou ações contra violência nas vias

Ação mobilizou a capital federal em 15 de setembro de 1996 e levou ao Eixão cerca de 25 mil pessoas. Elas exigiram respeito nas vias de Brasília e conquistaram medidas para conter a violência



Ainda assim, a morte continua a rondar motoristas e pedestres. Algumas tragédias são emblemáticas. Caso do ciclista e estudante de biologia Pedro Davison, 25 anos. Há exatos 10 anos, em 19 de agosto de 2006, mesmo dia do aniversário de 8 anos da filha, Luísa Davison, ele morreu atropelado no Eixão. Começava ali a luta de mais uma família para que o assassinato do rapaz não ficasse impune.

Pedrinho, como era conhecido, pedalava pelo Eixão Sul, na altura da 213, quando foi atingido por um Marea prata. O contador Leonardo Luiz da Costa dirigia acima da velocidade, alcoolizado, com a CNH vencida e fugiu sem prestar socorro. Quatro anos mais tarde, Leonardo foi condenado por homicídio doloso com dolo eventual (quando o autor assume o risco de matar) a 6 anos de prisão no regime semiaberto. À época, ativistas consideraram a pena branda.

Luísa completa hoje 18 anos, e os avós ainda lutam para que o contador pague uma pensão para a jovem. ;Eu era muito nova quando tudo aconteceu. Sempre foi um assunto complicado. Os meus avós entraram na ONG Rodas da Paz e conseguiram transformar a nossa dor em conquistas para que outras pessoas não passem pelo que passamos;, conta Luísa.

Batalhas

A família de Pedro e Luísa luta, agora, pela criação do Dia Mundial do Ciclista, oficializada no Projeto de Lei n; 5.988, de 2016. A intenção é promover a educação e a cidadania no trânsito. Para a garota, as duas décadas que separam a Paz no Trânsito da campanha pela segurança do ciclista se conectam, assim como as histórias de todas as famílias em luto por causa da violência no asfalto.

Para Pérsio Davison, pai de Pedrinho, mencionar a Paz no Trânsito é falar em respeito ao cidadão. ;A campanha trouxe, por exemplo, o respeito à faixa de pedestres, que se estende à diversidade de mobilidade, na qual a bicicleta está inserida. E isso permanece. Tornou-se discurso de acesso à cidade no contexto da mobilidade;, afirma. A Paz no Trânsito foi o início. Deu visão ampla da realidade do conflito entre pedestres e motoristas;, diz Beth Davison, mãe de Pedrinho.

Uma bicicleta branca às margens do Eixão marca o local do acidente. Beth visita o monumento semanalmente e leva flores. Vez ou outra, surpreende-se ao encontrar um vaso novo, deixado por um desconhecido. Pérsio explica que não é um lugar de pesar, mas de paz. Um símbolo da luta da família e da sociedade. ;A morte do Pedro trouxe a consciência de que não era um acidente, mas a irresponsabilidade de um motorista. Algumas pessoas assumem conduta que pode causar a morte e, quando acontece, tornam-se assassinas. Não são fatalidades, mas escolhas. A punição é o respeito ao cidadão. A lei, um ato educativo que inibe aquele que se comporta de modo criminoso;, destaca o pai de Pedrinho.

"A morte do Pedro trouxe a consciência de que não era um acidente, mas a irresponsabilidade de um motorista. Algumas pessoas assumem conduta que pode causar a morte e, quando acontece, tornam-se assassinas. Não são fatalidades, mas escolhas. A punição é o respeito ao cidadão. A lei, um ato educativo que inibe aquele que se comporta de modo criminoso;

Pérsio Davison, pai de Pedro