postado em 20/08/2016 06:05
Quem está acostumado a ver exposições de fotografias em galerias, espaços fechados e cobertos precisou adaptar o olhar. E não foi tão difícil. Na tarde de ontem, a primeira edição do Walking Gallery ; Exposição Individual Itinerante, encantou as ruas de Brasília. Mais de 30 fotógrafos profissionais e amadores tiraram do arquivo algumas das suas fotos preferidas para levá-las até o público. Nos sinais de trânsito, na Rodoviária, no Museu Nacional. As reações foram as mais variadas. Houve motorista que buzinou, em apoio, os que aceleraram, meio contrariados, os que filmavam, riam e, claro, tiravam fotos. Um jeito diferente de comemorar o Dia Intencional da Fotografia, celebrado ontem.
O conceito desse tipo de movimento artístico nasceu na Europa, mais precisamente na Espanha, cunhado pelo arquiteto e artista catalão José Puig. O primeiro Walking Gallery (WG) ocorreu em Barcelona. O idealizador do projeto e diretor-executivo da 6; edição do Festival do Mês da Fotografia do DF, Eraldo Peres, conta que o objetivo é libertar as imagens das galerias. Espalhar a arte em cada canto da cidade. ;Levamos ao público que nem sempre tem acesso a museus e espaços institucionalizados. Nesse mês da fotografia, colocamos exposições em Ceilândia e no Gama, o que mostra justamente essa proposta, de levar esse tipo de arte para fora do plano, do centro de Brasília;, comentou Peres.
No horário marcado, por volta das 15h, os participantes chegavam com suas fotografias. Umas maiores, outras menores. Mas o orgulho em apresentá-las, igual. Wládia Drummond, 52 anos, carregava uma de cada lado do ombro, presas por um fio. Foram tiradas há três anos, em uma viagem à Turquia. Retratar viagens é um dos gostos da bancária. ;Também gosto bastante de natureza e cotidiano. Mas, no fim, gosto de tudo. Fotografar é um vício que cultivo;, afirmou. Wládia é publicitária e escolheu o curso de comunicação pela proximidade com a fotografia. Hoje, é o maior hobby. ;Isso aqui é inovador. Vim por isso. Já fiz parte de grupos de fotógrafos, mas o que tínhamos mais eram exposições. E isso aqui é muito diferente, quis participar;, explicou.
Presidente do Fotoclube Candango, Gisele Porcaro de Oliveira, 57, levou para as ruas uma foto apropriada para o momento olímpico. Tirada há cerca de dois anos para uma exposição, retrata a ;paixão brasileira;. Para ela, movimentos artísticos em torno da fotografia são mais do que uma divulgação da arte, são também uma valorização da foto e do fotógrafo. ;Há uns dois anos, conseguimos incluir na área cultural do GDF a fotografia. Antes, éramos ligados às artes visuais. Isso é um avanço, a foto tem crescido muito, mas esse tipo de projeto ajuda a divulgar ainda mais a fotografia;, ponderou. ;A gente vive fotografia. Nós, amadores, somos, principalmente, amantes da fotografia;, diz a bancária aposentada.
De parada em parada, fotos para cima; depois, para frente, em uma performance de apresentação. A curiosidade era inevitável. Muitas pessoas paravam e ficavam em volta para ver o que estava acontecendo. A aposentada Sandra Beatriz Zarur, 64, não perdeu um momento. Filmou e fotografou tudo pelo celular. ;Muito divertido, legal, uma ideia muito, muito boa;, elogiou.
Libertação
Um grupo de cegos também participou do Walking Gallery. Deixaram para trás o preconceito, o medo e se libertaram. Cerca de sete alunos inscritos em uma oficina da Biblioteca Braile de Taguatinga foram para a rua, cada um com sua foto, mostrar que cego pode ; e deve ; fotografar. ;Ensinei a eles o básico da fotografia. A percepção deles é diferente. Eles veem tudo em volta e tivemos que aprender direcionamento, alcance das lentes, e eles conseguiram;, explicou a professora Hoana Costa Gonçalves, 30.
Hoana começou a oficina para desenvolver um artigo sobre visão para a faculdade. Agora, quer levar o trabalho adiante. ;Eles adoraram. Perderam o medo. Gostam muito de tirar foto e quero fazer outras coisas com eles;, afirmou. Uma das alunas, Noeme rocha da Silva, 56, tenta explicar como faz para tirar a foto. ;Eu pego em você para saber onde está, me afasto, e tiro. Tiro até selfie. Ninguém me segura mais. Tiro em casa, treino, faço foto do vaso de flor e acabei de tirar uma sua;, brinca ela, referindo-se a esta repórter. Para Noeme, mais do que aprender uma coisa nova, fotografar é a quebra de paradigmas. ;É como se eu tivesse me vendo naquela foto. Mando nos grupos e falam: ;Nossa, como uma cega pode fotografar!’ Mas não tem isso. Não sei se é puxa-saco, mas elas (professora e colegas) ainda dizem que minhas fotos são boas;, contou, bem-humorada.
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