postado em 21/08/2016 07:08
Não é novidade para alguém que investe no Distrito Federal que a clientela daqui está entre as mais exigentes do Brasil. Dona da maior renda per capita dos estados da federação ; a média mensal é de R$ 2.055, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ;, a região demanda de quem produz um cuidado ainda mais assertivo com o produto final e, como consequência, muitos alcançam um padrão de qualidade que os colocam entre os melhores do país.
Um dos exemplos é Priscila de Ávila. Em sua propriedade no Lago Oeste, ela decidiu investir nas pimentas mais ardidas do mundo, transformando sabores picantes em molhos, geleias e temperos. A proprietária do La Pimenteira garante: conquistar o cliente daqui requer um processo de convencimento totalmente dependente da qualidade do que é vendido. ;O DF começou a dar valor aos meus molhos a partir do momento em que entendeu que as pimentas não são só ardência. Elas são uma harmonização de sabores com ervas, azeites, vinagres e até cachaças. É isso que faço;, explica.
Mesmo tendo conseguido se posicionar no mercado ; os produtos dela podem ser encontrados em grandes restaurantes de Brasília e em outras capitais ;, ela assegura que isso não é o suficiente para convencer os bancos a aumentarem as linhas de crédito para um maior investimento. ;Eles liberam pouco capital de giro para os produtores médios. Mas tive bastante apoio de entidades como Emater e Sebrae. Posso garantir que aqui enfrentei menos dificuldades do que quando morei em Goiás;, frisa.
Esse suporte é fundamental para os produtores entenderem, não só o que envolve o manejo daquilo que é plantado, mas como ele pode agregar valor à mercadoria. Fernando Neves, gerente da Unidade de Agronegócios do Sebrae no DF, frisa que para ser de qualidade, não significa apenas ser bem-aceito pelo mercado. ;É preciso ter padrão, volume e frequência. Não adianta oferecer algo bom sem garantia de que ele vai ser sempre assim; ou que não haja uma regra na quantidade, bem como na periodicidade de entrega;, explica.
De acordo com ele, ainda são poucos os nomes no DF e no entorno que conseguem atingir esse nível de precisão nos negócios. ;Mas há muitos a caminho. O importante é que eles busquem sempre mais conhecimento, não somente de técnicas de agricultura e manejo, mas também de mão de obra.; Essa busca é essencial até mesmo para que analisem se estão mesmo dispostos a enfrentar as agruras do mercado em que pretendem investir.
Investimento e conhecimento
Quem conversa com José Adorno só fica sabendo qual a sua primeira profissão, a de médico, caso ele diga. Seu prazer em falar sobre café é tão visível que dá a impressão de que ele nasceu nesse meio. Mas foi uma mudança para o Lago Oeste que despertou sua atenção para planta e para tudo que envolve sua produção. De uma plantação experimental de 300 pés, há nove anos, hoje ele tem cinco mil e entrega no Lote 17B, um café orgânico e especial que demonstra não só o potencial do DF, mas como o mercado tem mudado a percepção sobre o que é capaz de ser produzido aqui. ;O meu grande objetivo é criar uma cultura de café, de bom gosto. Quis dar uma vocação para a chácara, envolvendo toda a família;, explica.
Mesmo sem saber nada sobre esse tipo de lavoura, Adorno encarou o desafio e transformou sua propriedade em um minicafezal, onde planta, colhe, seca, torra, mói e embala os grãos. ;Quando conheci café especial, percebi que existia a possibilidade de termos aqui um produto de alto valor agregado;, afirma. Sua intenção, inclusive, é de ir além do fornecimento: José pretende transformar a propriedade em um local para reunir os amantes da bebida, onde possam conhecer o que está por trás daquele do expresso degustado todos os dias. ;Quero criar um espaço sensorial de prova, recriando todos os passos do café, com visitações. Há mercado e ele está crescendo.;
O interesse em fabricar itens mais elaborados também tem chegado, inclusive, às regiões de Goiás, próximas a Brasília. A Pireneus Vinhos e Vinhedos, localizada na serra que leva o mesmo nome, ainda surpreende enófilos de todo o país. Adriana Carvalho, uma das sócias, garante que o investimento ; considerado uma loucura no início ;, agora é elogiado e se mantém pela força do mercado brasiliense e pela mudança de percepção da clientela goiana sobre o vinho.
;Ainda há resistência ao que é novo, mas nossa região precisa ser valorizada para continuarmos a investir. Brasília é, hoje, a cidade que mais consome nossas garrafas, seguida por Goiânia;, conta. Adriana também reclama da dificuldade de receber financiamento, mas isso não diminui a intenção de continuar no setor. ;A colheita de 2016 está sendo feita agora e nossa expectativa é atingir as seis mil garrafas.;
Se produzir vinhos no cerrado pode soar inusitado, o que dizer de uma cachaça de Alexânia (GO), que é considerada a melhor do país? Na Expocachaça 2016, realizada, em junho, na capital de Minas Gerais, Belo Horizonte, a Cachaça DOMINISTRO Extra Premium recebeu Medalha de Ouro em uma degustação promovida durante o evento. ;A burocracia para investirmos sempre foi o maior problema, ainda mais para quem segue tudo à risca, como nós. Mas, quando recebemos um prêmio como esse, percebemos que estamos no caminho certo e que vale a pena se dedicar a essa região;, garante José Ribeiro, gerente da cachaçaria, que hoje produz 40 mil litros por ano.
Mercado local
O gerente técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-DF), Anderson Assunção Vieira, afirma que exemplos bem-sucedidos, como os da Cachaça DOMINISTRO, estimulam outros empreendedores. É como se alguém dissesse: ;é rentável investir na região.; ;Isso faz com que eles busquem mais instruções específicas, não apenas no manejo, mas na administração do negócio: quanto ele gasta, quanto pode comprar etc. Eles estão entendendo que têm uma empresa;, frisa. E, com isso em mente, às vezes, fica até mais lucrativo manter as vendas restritas ao Distrito Federal.
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