Cidades

Ricardo Cardoso: "Não estou fugindo. A verdade tem que vir à tona"

Ex-diretor do Fundo de Saúde não prestou depoimento hoje, mas garante que vai colaborar com investigações. Ele está em São Paulo, mas confirma participação na CPI

Otávio Augusto
postado em 23/08/2016 21:26

Ex-diretor do Fundo de Saúde não prestou depoimento hoje, mas garante que vai colaborar com investigações. Ele está em São Paulo, mas confirma participação na CPI

O ex-diretor do Fundo de Saúde do DF Ricardo Cardoso é considerado personagem central na investigação que apura suposta cobrança de propina sobre créditos orçamentários usados para o pagamento de dívidas do governo com empresas de UTI. A repercussão do caso provocou o afastamento inédito de toda Mesa Diretora da Câmara Legislativa. Hoje, Ricardo teria que prestar depoimento coercitivo na Delegacia de Combate aos Crimes contra a Administração Pública (Decap). Entretanto, não foi encontrado. O Correio conversou com o gestor, que está em Bauru (SP), acompanhando o filho num tratamento médico. Ele garantiu que vai colaborar com as investigações.

A operação comandada pela Procuradoria-Geral de Justiça do Distrito Federal e Territórios cumpriu mandados de busca e apreensão, de condução coercitiva e de afastamento cautelar. A presidente afastada da Câmara Legislativa, Celina Leão (PPS), e os deputados Cristiano Araújo (PSD), Raimundo Ribeiro (PPS), Bispo Renato (PR) e Júlio César (PRB) prestaram depoimento na manhã desta segunda-feira (23/8). O ex-secretário da Câmara Legislativa Valério Neves Campos não foi encontrado em casa, no Lago Sul, mas se apresentou à tarde. Ricardo Cardoso não prestou esclarecimentos à polícia.

;Estou em viagem. Meu filho tinha uma revisão de cirurgia. Infelizmente eu não estou em Brasília pra falar com o delegado. Já liguei várias vezes na Decap hoje e não atenderam. Quero justificar e me coloca a disposição. Mandei mensagem para o Promotor Jairo Bisol (Prosus) e pedi o contato do Promotor que está conduzindo a operação, mas não obtive resposta. Quero justificar minha ausência;, disse ao Correio.

;Foi um despacho meu;
Ricardo garante que não está fugindo da Justiça. ;Chegarei (na quinta-feira) e irei à CPI e na Decap. Comprei passagem há mais de mês. Vim domingo e volto quinta-feira. Só não voltarei amanhã por que não consegui voo;, detalha.

O ex-administrador do orçamento da Secretaria de Saúde confirma que vai prestar esclarecimentos à CPI. ;Eu acho que estou como envolvido por que eu era o ordenador de despesas. Foi um despacho meu que reconheceu a dívida das empresas. Mas essa era a função. Nós brigamos muito por mais orçamento para a Saúde em 2015. Ficamos felizes no Fundo com mais 30 milhões. Agora se houve alguma negociata em outra esfera eu não sabia. Isso é grave e tem que ser apurado com rigor e os envolvidos devem ser punidos. Qualquer gestor no meu lugar faria o reconhecimento da dívida ou perderia o orçamento;, reforça.

Entenda o caso
Seis hospitais aparecem como beneficiários dos créditos orçamentários da Câmara Legislativa. O Fundo de Saúde do DF reconheceu, em dezembro do ano passado, dívidas dos hospitais Santa Marta (R$ 11 milhões), Home (R$ 5 milhões), Intensicare (R$ 5 milhões), Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (R$ 4,5 milhões), São Mateus (R$ 2,5 milhões) e São Francisco (R$ 2 milhões). Na época, Ricardo era responsável pelo ordenamento das despesas.

Parlamentaressão suspeitos de cobrar de % a 10% do valor recebido pelas dívidas em propina pela liberação do recurso. ;Meu depoimento será esclarecedor na CPI. Tem muita gente falando besteira. Gente que não entende de orçamento e finanças;, critica. Ele reclama da pressão empresarial. ;A pressão é muito grande. Querem parar os serviços o tempo todo por causa das dívidas. O próprio MPDFT intermediou três reuniões entre o Governo e os fornecedores pra tratar de dívidas;, ressalta.

Segundo Ricardo, sua esposa está grávida de 37 semanas e por isso não acompanhou o filho na viagem ; a criança nasceu com uma fenda palatina. ;Minha esposa não pode mais viajar. Não estou fugindo. A verdade tem que vir à tona;, rebate. Ricardo ficou sabendo da operação da polícia pelos jornais e familiares. ;Minha esposa me ligou falando da busca. Disse a ela para colaborar e que não tenho nada a temer. Estou mal por terem ido na minha casa. Família é intocável;, pontua.

Ricardo chegou ao Executivo local pelas mãos do governador Rodrigo Rollemberg. O gestor foi exonerado em 21 de junho ; após um desentendimento com a equipe da Secretaria de Planejamento. Antes de chegar ao GDF, Ricardo era servidor do Ministério da Justiça, onde é concursado desde 2010. Atuou na área de auditoria, fiscalização e combate a corrupção. Agora, voltou para o órgão de origem.

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