Cidades

Moradores da Asa Sul reclamam que poda das árvores foi 'radical'

Novacap explica que antes de qualquer procedimento é feito uma análise do local

postado em 26/08/2016 06:03

Lourivaldo Marques se orgulha dos ficus italianos que plantou próximo à sua banca de revistas, na 108 Sul


O serviço de poda realizado pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) está causando irritação em alguns moradores da capital. Muitos reclamam que o procedimento é exagerado e não tem retirado muito mais que os excessos da planta. A falta de sombra e a mudança na paisagem estão no foco de reclamação.

No mês passado, a Novacap fez a poda de cerca de 20 árvores localizadas na Quadra 305 Sul. Apesar de ser um pedido antigo dos próprios moradores, o resultado não agradou. ;Deixaram apenas os troncos, danificou totalmente a paisagem. Os galhos chegavam à altura do 6; andar, mas agora não temos sombra nenhuma;, reclama o economista Ricardo Moraes, 51 anos. Ele mora na quadra desde 1970 e compara fotos do local na época com o cenário atual. Com a ausência da sombra, alguns moradores chegaram a colocar toldos nos apartamentos. Ricardo relata que até o calor aumentou. ;Foi uma ação muito radical. Isso só pode ter sido feito para que não haja manutenção recorrente. Até as trepadeiras, que agora ficam expostas ao sol, morreram por causa disso;, diz.

De acordo com a assessoria da Novacap, todo procedimento é feito de acordo com avaliação de um engenheiro florestal. Depois da análise, a poda é inserida na programação das equipes do Departamento de Parques e Jardins. O órgão ressalta que só eles têm autorização para realizar a poda ou o corte de árvores em área pública. Em 2015, a Novacap recebeu 9.417 pedidos de poda. Este ano, os registros chegavam a 4.150.

A coordenadora da Escola de Paisagismo de Brasília, Simone Ribeiro, afirma que a falta de planejamento é o principal motivo das podas drásticas. ;No momento em que é feito o plantio, é necessário avaliar o local para que não esteja próximo a prédios ou fiações;, exemplifica. A especialista também afirma que as raízes crescem conforme o porte das árvores e podem interferir em tubulações e ainda rachar muros e paredes. Simone ressalta que as árvores trazem conforto ambiental, proporcionam sombra, lazer e equilíbrio à fauna. A umidade relativa do ar também é afetada diretamente. ;O mal das podas drásticas é porque tiramos toda a copa das árvores. Pássaros, morcegos e insetos sentem falta desse tipo de ambiente. Todo caso deve ser avaliado para se realizar o procedimento.;

Quem precisar dos serviços da Novacap pode entrar em contato pelo número 162 ou se dirigir às administrações regionais. O cidadão que tiver interesse em plantar mudas em local público deve entrar em contato com a companhia, que enviará uma equipe ao local indicado para verificar a viabilidade. Caso não haja impedimentos, o plantio é autorizado ou a ação será incluída no calendário do departamento responsável.

Pioneiras
Ao lado de uma banca de revistas localizada na Quadra 108 Sul, há dois pés de ficus italianos que chamam a atenção de quem passa no local. As imensas árvores estão presentes no cenário de Brasília há mais de meio século. O dono da banca, o baiano Lourivaldo Marques, 79 anos, chegou à capital em 1960. Depois de três anos aqui, plantou as árvores. ;Sempre tive uma paixão imensa pela natureza. Quando eu tinha 23 anos, peguei dois galhos de uma outra árvore da quadra e plantei ao lado da minha banca;, conta.

Lourivaldo conhece cada pedacinho do espécime, anda por cima das gigantes raízes como se estivesse dentro de casa. Para demonstrar a confiança em suas velhas amigas, o revisteiro coloca precisamente os pés no cipós e sobe no tronco da árvore. O baiano conta que realizou o plantio dos dois titãs separadamente, mas eles se entrelaçaram. ;Fui moldando as formas conforme os galhos cresciam e, no final, acabou formando um arco, por onde passo todos os dias.;

Os dois ficus têm grande importância na vida de Lourivaldo. Segundo ele, um representa a freguesia fiel da banca e o outro, a mulher. Emocionado, relata que diariamente, antes de abrir a loja, vai até o local, olha para o céu e, após um suave beijo na árvore, inicia seu dia. No próximo mês, as gigantes completarão 53 anos. O revisteiro afirma que é importante preservar os espaços em que existem vegetação em Brasília, pois proporcionam vários momentos de inspiração. ;As minhas duas paixões são livros e natureza, tenho até uma poesia para isso: o verde é o melhor ambiente, ler é o melhor prazer e o livro é o melhor presente, feito para você ficar contente;, recita.

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